(por Jefferson Castanheira)A “Enciclopédia Elemental das Criaturas mágicas”, livro sagrado do folclore irlandês, sinaliza: Ao encontrar um Leprechaun, ele te guiará para a terra dourada, cheia de tesouros e mistérios para aqueles que o desejam. O problema é, apesar de seu pouco tamanho físico e aparência extremamente amigável, nem sempre o Leprechaun é inofensivo e sinônimo de conquistas.Claro, se você for um deles, eles te guiarão para a conquista. Mas se for contra eles e não realizar seus desejos através de tributos, você terá um pesadelo que te levará ao oposto do que você procura. Os desejos que o Leprechaun lhe concede são semelhantes a de um gênio da lâmpada genérico, mas ao contrário deste, a lenda élfica possui uma enorme ganância e eles não são nada confiáveis, sempre pregando peças e enfeitiçando os sedentos pelo seu ouro. A lenda veio para o lado de cá do Atlântico graças aos irlandeses, donos deste folclore. Os mesmos ‘Irish’, como chamamos seu povo, fundaram o nordeste do território dos EUA, também conhecido como a Nova Inglaterra. O estado de Massachussetts todo tem uma influência cultural enorme irlandesa, e a marca é o Leprechaun no escudo de um dos times mais icônicos da região, o Boston Celtics. Vence-lo nunca é fácil. Enfrenta-lo nunca é algo comum.O armador campeão pelos Lakers dos anos 80, Norm Nixon, descrevia dessa forma como é jogar contra os Celtics no Garden: “Quando você entra neste lugar, você pode sentir o vento frio… e você sente que pode tropeçar no ar da quadra. A bola, quando você bate na madeira da quadra, ela pode simplesmente sair sem motivo. A madeira tem alguma lama, a bola fica pesada, você fica lento, mas você olha pro chão e não vê nada. Não há explicação lógica. Você então ouve um som. Você ouve esse som como se fosse uma risadinha. Não são fantasmas… É um Leprechaun.”Patrick James Riley, ou como conhecemos, Pat Riley, derrotou os Celtics várias e várias vezes na carreira como jogador, como técnico e hoje como presidente do Miami Heat. Riley, de família irlandesa, talvez saiba bem como odiar um lugar que ele mesmo poderia pertencer. Ele sabe como derrotar, mas nem sempre sai vitorioso. E foi o caso deste jogo 4. Não ouvíamos risos de Leprechauns. Ouvíamos gargalhadas. Gargalhadas estas que caçoam daqueles que não respeitaram o Boston Celtics, achando que Miami poderia sair do Garden vencendo duas partidas seguidas e levar a série das finais de conferência para 3-1. Gargalhadas que admitem seu próprio tamanho e risadas, de modo avassalador, quando um adversário é preso em suas amarras e em seus próprios desejos ambiciosos. Norm Nixon estava certo. Não existe explicação lógica.Podemos claro olhar os números e culpar o Miami Heat pela derrota, e, aliás, é o mais sensato a se fazer. Miami não trouxe nenhuma qualidade em quadra e estava derrotado antes mesmo do fim do primeiro quarto. Nada foi dando certo para o time de South Beach. A bola estava pesada, arremessos fáceis pareciam impossíveis, turnovers aconteciam sem explicação. E o vento úmido carregava cada vez mais o Boston Celtics para uma vitória fácil. E olha que mal contavam com Marcus Smart, um de seus melhores jogadores. Tatum, que estava sem o trevo de quatro folhas no jogo 3, foi abençoado pelo Leprechaun e voltou com tudo, com todos os pontos de exclamação possíveis. Robert Williams, Al Horford e Grant Williams pareciam um portão dourado na névoa que segue o paraíso, mas sem deixar Jimmy Butler, Bam Adebayo, Victor Oladipo ou Kyle Lowry entrarem. Como o fim de um arco-íris não leva na realidade para um pote de ouro, o time comandado por Erik Spoelstra se viu iludido com a própria história que contou e acreditou. A ilusão findou em encontrar a realidade problemática de tantas deficiências para se acertar, ao invés de crer que já estariam prontos para o Leprechaun ceder, sem resistência, seu principal tesouro. Victor Oladipo foi o maior esperançoso, com 23 pontos anotados. Mas toda a equipe visitante foi péssima ofensivamente, com apenas 34% dos arremessos convertidos.Os Celtics, sabendo que já tinham vencido a partida desde o começo do terceiro período, apenas controlaram sem esforços a partida. Jayson Tatum finalizou como o grande líder, nada pequeno leprechaun, com 31 pontos anotados e um +/- de 37.Final: Miami Heat 82 x 102 Boston Celtics (Série empatada em 2×2)Quarta-feira é o jogo 5. Se os ventos úmidos e frios da Irlanda irão passar por South Beach, só o tempo dirá em uma série completamente aberta, onde nenhuma fortuna passa desapercebida.Por enquanto, os risos do Leprechaun são uma combinação de saciedade e alívio. Basta saber se irão se transformar em conquista.
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