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Série Análise de Torcedor – Os Saints draftaram como um Sniper de elite, e não como Rambo

(por Bruno Fuggaza) A equipe do tradicional uniforme preto e dourado chegou ao Draft de 2020 como a equipe com menos escolhas disponíveis (apenas 5), porém, contando com um dos elencos mais fortes e completos de toda a NFL, tanto no ataque quanto na defesa. Parte do motivo para isso tem sido a estratégia de Sean Payton e Mickey Loomis nos últimos anos de assinar Free Agents para “tampar buracos” no time, permitindo assim mirar em talentos no Draft. Nesta offseason chegaram Emmanuel Sanders para ser o WR2 oposto a Michael Thomas e o Safety Malcolm Jenkins para substituir Von Bell, e renovaram peças essenciais como Andrus Peat, Janoris Jenkins, Taysom Hill e, obviamente, Drew Brees. Desta forma, os Saints nos últimos anos tem podido se dar ao luxo de durante o Draft escolher o “BPA” (Best Player Avaiable, ou “Melhor Jogador Disponível” independentemente da posição que ele jogue) quando chega sua vez, o que os permitiu achar jóias como Ryan Ramczyk, Marshon Lattimore, Michael Thomas, Alvin Kamara, Eric McCoy, Marcus Williams dentre tantos outros. A combinação então de ter um elenco de alto nível e poucas escolhas fez a equipe adotar uma estratégia de “atirador de elite” nesse Draft, e não de “Rambo”. Quero dizer que o foco foi buscar jogadores que os Scouts avaliassem ter um grande potencial de desenvolvimento, ainda que não cheguem para disputar posição em um primeiro momento. Dessa forma, os Saints, que entraram com 5 escolhas, acabaram realizando apenas 4, efetuando três trocas para subir no Draft e garantir os jogadores desejados. Peço desculpas pela longa introdução, mas esse contexto será importante para fundamentar as análises das escolhas em si, que passo a fazer agora: Primeira Rodada – Escolha 24 – Cesar Ruiz – Linha Ofensiva – MichiganLogo na primeira rodada, uma escolha que deixou os torcedores do Saints coçando a cabeça: enquanto muitos esperavam um jogador de defesa, como Patrick Queen (LSU), que ainda estava disponível, a equipe surpreendeu e selecionou o Center Cesar Ruiz (Michigan). Durante o Draft de 2019, os Saints deram trade up para a segunda rodada com os Dolphins e selecionaram o Center Erik McCoy (Texas A&M). McCoy logo de cara venceu a disputa contra o veterano Nick Easton que havia sido trazido para repor Max Unger, aposentado, e foi titular da equipe durante toda a temporada. A linha ofensiva da equipe foi uma das melhores da liga e McCoy reconhecido como um dos melhores Rookies do ano pela mídia especializada.Além disso o LG Andrus Peat acabou de renovar com os Saints e se tornar um dos Guards mais bem pagos da liga. Já o LG Larry Warford foi indicado para o Pro Bowl em suas últimas 3 temporadas. Então, afinal, por que a equipe tão bem servida na Linha Ofensiva escolheria de Ruiz ainda na primeira rodada? A resposta nós demos acima: os Saints fazem seu Draft por “BPA”, e no board de Sean Payton, Ruiz era certamente o melhor jogador. Com uma combinação de tamanho, força, técnica e inteligência, Ruiz era visto quase de forma unânime como o melhor jogador do interior da linha ofensiva nesse Draft. Sua principal qualidade é a proteção em jogadas de passe, algo que cai como uma luva no ataque liderado por Drew Brees. Outro ponto que conta demais a seu favor é sua versatilidade: Ruiz se destacou como Center, mas pode jogar também como Guard pela direita ou esquerda. E esse talvez seja o principal ponto que levou Ruiz para New Orleans. A linha ofensiva dos Saints apesar de excelente, tem nos últimos anos sofrido muito com lesões que afastaram seus jogadores em alguns jogos, ou causaram uma queda de rendimento ao atuarem no sacrifício. O LT Armstead já chegou a ser indicado como All Pro (2018), mas nunca conseguiu atuar os 16 jogos da temporada em sua carreira. Quando ele se machuca, Andrus Peat costuma ser deslocado para Left Tackle. Peat, porém, também nunca conseguiu atuar uma temporada completa sem lesões.Durante a eliminação contra os Vikings ano passado, tanto Peat quanto Warford estavam recuperando de lesões sofridas, e claramente não estavam 100%. Minnesota então encontrou o caminho para a vitória deslocando seus principais pass rushers para o interior da linha e venceu o duelo das trincheiras, rompendo o pocket de Brees constantemente.Devemos também destacar que o LG Larry Warford está em seu último ano de contrato, e tem um dos salários mais altos do time nessa temporada. Não seria surpresa se, com a escolha de Ruiz, Warford fosse trocado ou até cortado. Portanto, apesar de parecer estranha em um primeiro momento, a escolha de Cesar Ruiz pelos Saints faz todo sentido quando você conhece a estratégia da equipe. Quando Andrus Peat foi draftado na 13ª escolha geral, a equipe já possuía Armstead, Zach Strief e Jahri Evans como titulares inquestionáveis.  O mesmo se deu quando da escolha do OT Ryan Ramczyk na primeira rodada de 2017. E se repetiu com McCoy ano passado, após Nick Easton ter assinado um contrato de valor relevante. Para os Saints, a vitória passa necessariamente e, primeiramente, por oferecer o máximo de proteção a Drew Brees. E, apesar das coçadas nas cabeças que as escolhas acima causaram recentemente, os resultados no campo têm sido ótimos. Para encerrar, uma frase que li há alguns anos, e que entendo que se aplica aqui: “Todo torcedor quer ter uma ótima Linha Ofensiva, mas nenhuma torcida quer draftar jogadores de Linha Ofensiva”.  Terceira Rodada – Escolha 74 – Zack Baun – LB/Edge – WinsconsinOs Saints realmente gostavam de Zack Baun, e de acordo com Sean Payton, eles estavam tentando subir no Draft desde o meio da segunda rodada com outros times para escolhê-lo. Conforme ele seguiu caindo, a equipe aproveitou a chance de pular da 88ª para a 74ª escolha em uma troca com os Browns e garantir o jogador. Baun chegou a ser projetado por alguns dos principais analistas de Draft da mídia especializada como um jogador que sairia no final da primeira rodada. No entanto, uma amostra de urina considerada diluída durante o Combine talvez tenha assustado alguns times e derrubado o jogador no Draft. Ainda assim, ter conseguido selecionar Baun no meio da terceira rodada parece ter sido uma grande jogada para os Saints, principalmente considerando que Linebacker era provavelmente a maior necessidade da equipe após a saída de AJ Klein e com Kiko Alonso e Alex Anzalone possuindo histórico de lesões. Baun foi muito elogiado por seus ex-treinadores pela sua inteligência e dedicação na sala de vídeos, estudando os adversários e desenvolvendo sua capacidade de leitura das jogadas. Outro ponto que se destaca é sua velocidade, que lhe permite jogar na cobertura de recebedores ou perseguindo running backs. Apesar de se declarar Linebacker, Baun foi utilizado em Wisconsin muitas vezes como Pass Rusher puro, conseguindo 12 sacks e 19 tackles atrás da linha de scrimmage na temporada. A versatilidade do jogador então permite que ele seja aproveitado pelo criativo Coordenador Defensivo Dennis Allen em diversas posições: Will LB, Sam LB, MLB ou Edge Rusher.   Terceira Rodada – Escolha 105 – Adam Trautman – TE – DaytonOs Saints não teriam outra escolha no Draft até o final da quarta rodada, mas isso não os impediu de mais uma vez realizar um Trade Up, dessa vez com os Vikings, enviando para Minnesota todas as escolhas restantes no Draft de 2020 (escolhas 130, 169, 203 e 244) para subir até a escolha 105 e selecionar o Tight End da pequena universidade de Dayton. Trautman se tornou o primeiro jogador de Dayton draftado para a NFL desde 1977. Em um Draft considerado fraco na posição de Tight End, Trautman era considerado por alguns especialistas como uma escolha de meio de segunda ou começo de terceira rodada, e um dos três melhores jogadores da posição. Novamente, parece que os Saints aproveitaram a oportunidade o draftando com a  penúltima escolha da terceira rodada. O fato de ter atuado em uma universidade menor permitiu que Trautman enfrentasse adversários bastante inferiores aos que teria caso participasse dos maiores programas. No entanto, ele fez o que se espera de um bom jogador nessa situação: foi absolutamente dominante, o que lhe garantiu convites para o Sênior Bowl e para o Combine. Trautman mais uma vez aproveitou bem as oportunidades, principalmente durante o Combine, quando exibiu sua capacidade física e conseguiu ficar entre os melhores Tight Ends em praticamente todos os testes. Em New Orleans, ele deve chegar como terceira opção para a posição, atrás de Jared Cook e Josh Hill. Considerando que Taysom Hill diversas vezes se alinha também como TE, é possível que Tratman seja até a quarta opção da equipe, o que deve restringir bastante suas oportunidades nessa temporada. Mas parece que o plano de Sean Payton é exatamente não ter pressa com o jogador, dando-lhe tempo para se aprimorar e atingir seu enorme potencial. E uma curiosidade: Trautman costumava jogar como Quarterback até seu começo no College Football. Será que o treinador dos Saints pretende ter na manga mais um jogador que consiga surpreender os adversários? Sétima Rodada – Escolha 240 – Tommy Stevens – QB – Mississippi State Quando ninguém mais esperava que os Saints fossem trabalhar no Draft, Sean Payton surpreendeu mais uma vez, enviando uma escolha de 6ª rodada de 2021 em troca da escolha de 7ª rodada dos Texans para draftar o QB Tommy Stevens. A história aqui foi inclusive bastante curiosa. Com o fim do Draft se aproximando, Joe Brady (coordenador ofensivo dos Panthers e ex-assistente de Sean Payton) já havia entrado em contato com Stevens e seu empresário e fechado um acordo para ter o jogador como Undrafted Free Agent. Os Saints então tentaram negociar o valor do salário com Stevens, mas ele se recusou a ceder, por já ter dado sua palavra de que jogaria em Carolina. Sean Payton então teve uma atitude típica de Sean Payton: ele realizou a troca acima e draftou o jogador, garantindo assim o que o jogador seria de sua equipe. Após isso, Payton teria mandado um SMS para seu amigo Joe Brady: “Ops, not so fast/Não tão rápido”. Apesar de listado como QB, Stevens chega provavelmente para ser um protótipo de Taysom Hill. Com 1,93m, 106kg e muita velocidade (ele correu as 40 jardas em 4,49 segundos em seu Pro Day), Stevens já tem experiência sendo utilizado no College como QB, RB, Recebedor e Special Teams. Os Saints já contarão com Drew Brees, Jameis Winston e Taysom Hill como quarterbacks em 2020, o que levanta dúvidas sobre a viabilidade de carregar um quarto jogador para a mesma posição. Por isso, entendo que a possibilidade de Stevens ser cortado antes da temporada e colocado no Practice Squad para se desenvolver é bastante alta, a não ser que ele consiga uma transição rápida para outra posição que não quarterback. No entanto, não é nada mal para o jogador que quer ser o próximo Taysom Hill, acabar na mesma sala de reuniões que ele.

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