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Playmaker Entrevista – Conheça Felipe Eichenberger, preparador físico do Denver Nuggets

(por Leonardo Costa)  Dias antes do retorno da NBA, o brasileiro Felipe Eichenberger, chefe da preparação física do Denver Nuggets, nos concedeu uma entrevista por videoconferência. Felipe respondeu sobre os mais diversos temas, desde como chegou até o cargo em uma franquia da NBA, além de falar de como é trabalhar com Nikola Jokic, Paul Milsap e muito mais. Confira abaixo a entrevista completa com ele:  Playmaker Brasil (PB) – Como foi sua trajetória para chegar em uma posição de destaque na maior liga de basquete do mundo?Felipe (F): Eu sou natural de Ribeirão Preto, São Paulo, e vim para os Estados Unidos jogar basquete universitário. Tive propostas de algumas universidades, mas com o tempo vi que não tinha o nível exigido pela NBA, da mesma forma em que me apaixonei pela preparação física. Foi então que comecei como personal trainer. Mas o ponto de virada foi o lockout da liga em 2011, porque nesse momento eu estava fazendo um estágio em uma renomada academia de Las Vegas, frequentada por atletas da NBA e, dentre eles, estava o Chauncey Billups, que foi quem me passou o número do então chefe de preparação física dos Nuggets, Steve Hess, que já estava há anos como preparador físico da equipe.Ligava todo dia durante três meses e, pelo fato de ser “indicado” pelo Billups, um cara com uma grande história na liga, ele não podia me ignorar totalmente, até que decidiu me dar uma oportunidade em sua academia particular em Denver para ver meu trabalho para depois entrar na equipe dele na franquia. Foi aí que eu saí de Oklahoma e entrei para os Nuggets.  PB – Para um jogador qual é o tamanho do risco de ficar um período parado e depois retornar numa fase aguda da competição? O que eles acharam da fórmula de retorno da NBA?F: A gente tinha disputado 65 jogos, estávamos perto dos playoffs, então essa volta é complicada. Acaba que temos que treinar muito para que diminua o número de lesões, mas é muito difícil que elas não ocorram nessa volta pelo tempo de treinamento não ser o ideal. O ideal seriam de 6 a 8 semanas de treinamento, mas tivemos 5 semanas apenas. Trabalhamos da melhor forma possível para tirar o máximo de proveito desse tempo menor. É um desafio pra mim, pra todos, mas estamos preparados e os jogadores também.Sobre a fórmula em si, não sei bem ao certo se eles aprovaram ou não, mas sobre o retorno tinha certas divergências. Alguns estavam mais preocupados com a volta, sobre como seria, mas havia outro grupo que não via a hora de voltar a jogar basquete. A incerteza de como seria essa volta assusta um pouco, mas no final todos são apaixonados pelo que fazem.  PB – Muita gente, pelo biotipo físico, acha o Nikola Jokic meio lento e fora de forma. Porém, dentro de quadra ele é o principal jogador da franquia. Como é trabalhar com ele? Existe algum trabalho especial feito com o pivô?  F: O porte do Nikola sempre foi alvo de críticas, mas os números mostram o alto nível dele. Sempre foi um dos jogadores que mais trabalhou, que mais se dedicou, seja parte física ou técnica. Quando ele chegou na franquia eu fui a primeira pessoa a trabalhar com ele e acabei virando muito amigo dele e da família. Tem aquela conexão estrangeira, por saber um pouco do que ele passaria durante o processo de adaptação além do basquete. Querendo ou não, nós recebemos ele aqui como um jogador de segundo round do draft, não chegou com a mesma expectativa de uma escolha alta. Mas, nós víamos a habilidade dele com os pés, com as mãos, e aí, além de toda a dedicação dele, entrou a infelicidade da lesão do Jusuf Nurkic, que era nosso pivô titular até então. Se o Nurkic não se machuca, o Nikola não teria o espaço naquele momento.Mas o nível de profissionalismo dele é tanto, que depois da primeira temporada, que a gente não tinha ido bem, ele foi em uma clínica de Las Vegas cujo o treinador é reconhecido por fazer trabalhos de habilidades com jogadores da NBA, inclusive trabalhou em várias franquias liga. E na época esse cara ligou pro Steve e disse: “Se esse jogador, o Jokic, não virar o melhor jogador da sua equipe em três anos, vocês estão fazendo coisa errada aí”. E hoje o Nikola é o cara da franquia. Porém, de nada adiantaria toda sua habilidade se ele não fosse tão dedicado.  PB – O Michael Porter Jr. foi draftado em 2018 e perdeu a temporada porque estava lesionado. Vocês sabiam o grau da lesão dele? Como funciona esse acompanhamento de jogadores de draft?F: Sim, nós já sabíamos da lesão dele. Nós temos uma equipe chamada High Performance Unity e sempre discutimos sobre possíveis jogadores que podem entrar na equipe pelo draft. Mas, não focamos apenas em um, até porque não sabemos se tal jogador vai chegar até a nossa escolha, como foi o caso do Porter, que era pra ser escolhido numa posição mais alta do que nós pegamos ele. Por isso, é importante você trabalhar em cima de vários nomes. Mas, quando ele chegou, nós já tínhamos toda uma avaliação sobre o jogador. Hoje ele tá totalmente recuperado, mas com lesões nas costas é sempre bom ter todo cuidado, assim como lesões de joelho.  PB – Outro jogador importantíssimo para o time é Paul Milsap, porém, ele já não é mais garoto e tem histórico de contusões. Como vai ser o retorno dele, existe a possibilidade de diminuir seus minutos nas partidas que restam da temporada regular e utilizá-lo mais nos Playoffs.F: O Paul vai ter um trabalho diferenciado, mas também porque ele é um jogador diferenciado. Profissionalismo extremo. A média de permanência dos atletas na NBA é de três anos e meio, e ele já está desde 2006 na liga. Então a gente treina pra que ele fique na melhor forma possível. Por exemplo, dos nossos jogadores, ele é um dos únicos que possui uma quadra coberta estilo NBA na própria casa, além de uma academia muito bem equipada, e isso mostra porque ele é diferenciado e todo seu profissionalismo. Mas, nós tentamos fazer um trabalho específico com todos os atletas, inclusive com ele.  PB – Como você acha que os Nuggets podem surpreender, principalmente Lakers e Clippers, na briga pelo título da conferência?F: Eu acredito muito que a gente pode bater qualquer equipe, seja Lakers, Clippers ou Bucks. A qualidade do nosso time é muito alta. Falta aperfeiçoar nosso estilo de jogo, que ele seja mais constante. Com pequenos ajustes é difícil pararem a gente.  Gostaríamos de agradecer e desejar toda sorte ao Felipe, que foi muito solícito conosco e tem uma linda história na sua profissão, representando o Brasil na NBA. Obrigado!

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