judson 2
MLS

Playmaker Entrevista – Confira a exclusiva com Judson, volante do San Jose Earthquakes

(por Leonardo Costa)Um dos destaques do Avaí nos últimos anos e atualmente titular incontestável do San Jose Earthquakes, da MLS, Judson é conhecido por sua garra e entrega dentro de campo. Direto de sua casa nos Estados Unidos, o volante, natural de Arêz-RN, topou bater uma papo com a Playmaker Brasil, falando do início da carreira no Rio Grande do Norte, passagem por América de Natal, Avaí, seu momento na liga, e como é jogar na MLS.1 – Como foi o começo de sua carreira?Eu comecei jogando em uma escolinha na minha cidade mesmo (Arêz-RN) e fiz testes em várias equipes, mas acabei não conseguindo entrar em nenhuma. Aí, em meados de 2008, mais ou menos, minha mãe, que é educadora, chegou e disse que achava melhor primeiro eu terminar o ensino médio e depois poderia traçar meu caminho, meus sonhos. Bem nessa época o pessoal do ABC foi na minha região fazer um peneirão e gostaram de mim. Comecei no sub-17 e logo fui disputar a Taça São Paulo. Fiquei um ano e meio no clube, mas em 2010 a gente perdeu a final do estadual sub-17 que dava vaga para Taça São Paulo e não assinaram meu contrato como profissional.Ao saber da situação, meu pai achou melhor a gente buscar outro caminho. Tive uma passagem rápida pelo Vitória-PE e voltei para Arêz e em seguida meu empresário fala que o América-RN queria me contratar para que eu jogasse a Taça São Paulo. Na hora eu fiquei meio com o pé atrás, né. Dois meses atrás eu tinha jogado final contra eles, tinham toda aquela rivalidade e agora era chamado pra jogar com os caras. Aí meu pai, que é americano doente, disse que era para ir, que a equipe ia assinar meu contrato, e realmente eles fizeram. Foram cinco anos de América-RN, fui emprestado para alguns clubes do interior do Rio Grande do Norte para ganhar experiência e em 2014 eu entro de vez para o plantel principal da equipe.Em meados de setembro de 2014 eu começo ter uma sequência boa com o Marcelo Martelotte, participo do jogo de quartas de final da Copa do Brasil, mas logo depois meu rendimento cai e volto pro banco. Pouco tempo depois, o Martelotte é demitido, chega o Roberto Fernandes e com ele eu assumo a titularidade na reta final da Série B, sem falar em 2015, que pra mim foi um ano muito especial porque disputei 45 jogos durante a temporada pelo América-RN e que serviu como trampolim para chegar até o Avaí.2 – Essa queda de rendimento que você citou, tem algum motivo tático, psicológico? O que mais influenciou?Acredito que naquele momento eu não tava tão focado quanto precisava. Contra o Flamengo, por exemplo, na Copa do Brasil, eu saio logo no começo do segundo tempo por que já tinha tomado cartão amarelo, mas tinha feito um bom jogo. Na partida seguinte, contra o Joinville, então líder da Série B, na Arena das Dunas, eu comprometi muito minha equipe. Errei muitos passes. Eu não fiz um bom jogo mesmo. Então, o sistema tático em si não foi o que fez meu rendimento cair e não tivesse sequência com o Martelotte, e sim minha própria atuação. Já com o Roberto, eu voltei mais focado, melhorei meu desempenho e consegui demonstrar mais nas oportunidades que ele me deu.3 – Mesmo com o rebaixamento do América-RN, em 2105, você se destacou na equipe e foi para o Avaí. Como foi o acerto?No final de 2015, meu empresário disse que ia vir coisa boa pra minha carreira. Na época minha filha tinha 8-9 meses, e em uma visita que eu fiz a um amigo em Natal, ele me levou para conversar com o presidente do América-RN, sem que ninguém soubesse, pra ver se acertava minha permanência. Eu queria ficar, pela questão de família, filha pequena, então fui pra reunião no clube. Acontece que a oferta que eles fizeram de valorização era praticamente zero e eu ainda tentei negociar pra achar um denominador comum, mas a diferença para as outras propostas que eu tinha era gigante. Logo depois da reunião eu falei com meu empresário e em dezembro ele me fala que a gente tinha acertado com o Avaí. Aí inicia mais um período de superação, conquistas, maturidade e uma nova casa.4 – Sua passagem pelo Avaí é lembrada até hoje pelos torcedores. Me fala como foi seu primeiro acesso pela equipe.Logo no estadual de 2016 a gente começou muito bem no turno, perdendo a final para Chapecoense. Mas, no returno as coisas não deram certo e inclusive brigamos para não cair. Quando começou a Série B eu me lesionei e não consegui ter uma boa sequência, principalmente no primeiro turno. Voltei para o segundo turno, mas como opção de segundo tempo, foram poucos jogos de titular. Lembro que no jogo do acesso, contra o Londrina, eu entrei ainda no primeiro tempo e foi uma partida muito especial porque foi meu primeiro acesso.Foi um ano em que o Avaí teve uma arrancada muito forte a partir da metade do campeonato, junto com a chegada do Claudinei Oliveira, saindo da briga pelo rebaixamento para o acesso com uma rodada de antecedência. O time encaixou de uma forma incrível, o Marquinhos era o líder daquela equipe, o elenco era muito sólido e a gente conseguiu subir.5 – Em 2017 o Avaí disputou a Série A mas acabou rebaixado. Como foi disputar a elite do futebol brasileiro?Acho que a gente foi rebaixado naquele ano por causa de resultados que deixamos escapar. Várias partidas a gente saia na frente, mas tomava o empate e virada. Mas, apesar do rebaixamento, apresentamos um bom trabalho. Claro que seria muito melhor para todos, clubes, jogadores, que o Avaí ficasse na Série A. Pra mim, particularmente, foi muito especial. Lembro que meu pai saiu de Arêz para assistir meu primeiro jogo na Ressacada, eu pude jogar 33 das 38 rodadas, atuar nos melhores estádios do país, contra jogadores de alto nível. Foi uma realização.6 – No ano seguinte, mais um acesso pelo Avaí, com direto a gol na Série B. Foi mais um ano especial?2018 foi mais um ano de afirmação pra mim dentro do clube. Foram 32 jogos na Série B, se não me engano. No duelo contra o Guarani, que eu marco um dos gols da partida, eu lembro que minha esposa me mandou mensagem assim: “hoje você vai fazer o seu”. Na jogada do gol eu lembro que o Andre Moritz (meio-campo, atualmente no Confiaça-SE) inverte pro Guga (lateral-direito, atualmente no Atlético-MG) que passa pro Renato (ainda no Avaí) e que rola pra mim já dizendo: “chuta”. Chego batendo e quando eu vejo a bola entrando já saio correndo em direção ao camarote, apontando para minha esposa, sem saber muito como comemorar. Mas foi uma alegria imensa poder marcar. Eu tinha feito gol pelo América-RN em 2015, voltei marcar em 2017, já pelo Avaí, em partida do estadual contra o Brusque. Aí veio esse gol contra o Guarani e aqui na MLS já marquei um também.7 – Depois do Avaí você foi para os Estados Unidos. Como foram os processos de negociação e adaptação?Faltando cinco rodadas para acabar a Série B, em partida contra o Atlético Goianiense, em Goiânia, o General Manager do San Jose Earthquakes, minha atual equipe, estava no estádio para me ver jogando. O diretor de scout de San Jose, é brasileiro, Bruno Costa, e ele já me acompanhava havia um tempo e o GM foi pra conferir de perto. Meu empresário avisou que ele estaria no estádio, e acontece que um dia antes da partida acontece uma fatalidade, minha sogra faleceu em Florianópolis e eu não estava com cabeça pra jogar pelo ocorrido. Mas aí minha esposa fala pra eu jogar porque ela sabia o quanto era importante aquela partida pra minha carreira e eu fui pro jogo. Joguei, saí aos 20 do segundo tempo, porque meu psicológico não tava dos melhores naquele momento eu não queria atrapalhar meus companheiros. Depois, já no hotel, o GM de San Jose falou que tinha gostado da minha atuação e também da minha atitude de ter jogado mesmo com tudo que tava passando, e falou assim: “Por mim tá fechado. Vou falar com o Matias (técnico do San Jose) e acredito que ele também vai gostar”.Óbvio que eu estava feliz com minha transferência, mas naquele momento meu primeiro objetivo era o acesso, e graças a Deus ele veio. Aí, depois do fim da Série B, o Francisco Battistotti, presidente do Avaí, me chamou no escritório dele pra gente renovar. Eu falei que precisava entrar em contato com meu empresário, e na hora ele ligou pra eles e explicaram que eu tinha um acerto com outra equipe. O Battistotti só fez uma ressalva, que se fosse pra eu sair do Avaí não poderia ser pra outra equipe do Brasil, porque aí “arrebentava ele”. Mas aí falamos que o acerto era para o exterior e pouco tempo depois eu já viajei pros Estados Unidos pra conhecer o clube e assinar o contrato. Não tinha como dizer não à proposta.A estrutura do San Jose é muito boa. Com todos os equipamentos necessários, muita organização, a frente do Brasil. Falo em termos de logística, o fato de não concentrar nos jogos em casa, algo incomum pra gente do Brasil. O clima também estranhei um pouco, mas logo a gente foi fazer a pré-temporada em Cancún, no México e quando voltamos o clima já tava tranquilo.8 – Como é trabalhar com o Matias Almeyda, técnico da equipe?O Matias chegou praticamente junto comigo. Se não me engano, chegamos eu e mais quatro jogadores com ele pra primeira temporada, em 2019. Os treinamentos com ele são muito intensos. Mas isso tem relação pela maneira que o Matias quer que a gente jogue. Nós marcamos individual por setor, e os treinos dele são bem voltados pro nosso estilo de jogo, de muita entrega, pegada. Ele te dá total liberdade em campo, mas sempre com aquele trabalho coletivo. Tenho aprendido muito com ele, um cara sensacional mesmo.9 – O mês de setembro foi de vários resultados negativos para sua equipe. Como vocês tão lidando com isso e trabalhando para reverter esse momento?A gente conseguiu uma vitória importante contra o Los Angeles FC, de virada, que com certeza vai fazer a gente reverter essa situação (EDIT: após a entrevista, o San Jose Earthquakes venceu o Galaxy, também por 2 x 1, e já flerta com vaga nos playoffs.). Foi uma vitória pra gente, jogadores, e também pro Matias e toda a comissão, que sempre deram total apoio pra gente. Nosso ambiente é incrível, eu me sinto muito bem e apesar dos resultados negativos que a gente vinha tendo, nunca deixamos de lutar, correr e de se entregar. A gente se reuniu depois de uma das derrotas e conversamos sobre como podíamos mudar aquela situação. Nós queremos melhorar cada vez mais e lutar por uma vaga nos playoffs.Importante falar que agora, com toda essa situação da Covid-19, os jogos estão sendo disputados com equipes mais próximas, então a gente acaba enfrentando vários rivais locais, como o LAFC e o Galaxy. Nós viajamos no dia do jogo agora, ficamos poucas horas no hotel e já vamos pro jogo, até pra evitar o desgaste na questão de voos.10 – Um de seus companheiros é o Chris Wondolowski, o maior artilheiro da história da MLS. Como é atuar ao lado dele?Ele é um fora de série. Mesmo com 37 anos ele treina muito, humilde, de grupo, e no dia-a-dia nem parece que é o maior artilheiro da liga. Sempre se empenha, dá o seu melhor em todas as situações, é o nosso capitão e dá o exemplo. É um cara referência, e seu sucesso é fruto de muito trabalho e dedicação. Na verdade, o próprio elenco é um exemplo de entrega.11 – Como é contato com os outros brasileiros da liga?Eu tenho um companheiro brasileiro aqui no San José Earthquakes, o Luis Felipe, que fez base no Cruzeiro, mas já joga aqui tem um tempo. E quando a gente joga com alguma equipe que tem brasileiro sempre rola uma resenha. Agora é com mais cuidado, pela pandemia. Contra Colorado eu troquei a camisa com o André, depois teve uma resenha com o Everton Luiz do Real Salt Lake no MLS is Back, o Artur do Columbus Crew, Ilsinho do Philadelphia Union, o João Paulo do Seattle Sounders, e por aí vai. Torço bastante por todos os brasileiros.Nós da Playmaker Brasil agradecemos ao Judson pela disponibilidade e atenção durante a entrevista. Desejamos que sua carreira continue crescendo e que você siga sendo espelho para muita gente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *