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Automobilismo

Os Acidentes Fatais da Indy 500

(por Anderson Rodrigues) “Motorsports can be dangerous”, essa frase normalmente está gravada em crachás e ingressos de eventos de automobilismo até hoje, para alertar aos espectadores e todos os envolvidos no evento que apesar do trabalho de mais de 100 anos em segurança no esporte, o perigo de algo mais grave ocorrer é iminente. Hoje o automobilismo é extremamente seguro, mas nem sempre foi assim e isso reflete no que vocês lerão a partir de agora. Os primórdiosA Indy 500 é disputada desde 1911, mas a primeira morte no complexo é datada de 1909, num evento chamado Prest-O-Lite Trophy Race, que é antecessor da Indy 500 como conhecemos. No final de semana que ocorreu o evento, morreram duas pessoas, Wilfred Bourque e seu copiloto Harry Holcomb. Na 58ª volta da corrida de 250 milhas, Bourque olhou para trás momentaneamente para outros carros no trecho da frente. Uma roda então escorregou, atingiu um buraco e o carro capotou em uma vala. Bourque e seu copiloto ficaram presos embaixo do carro e sofreram ferimentos, dos quais sucumbiram logo em seguida.A primeira morte em um evento Indy 500 ocorreu na sua edição inaugural e foi do copiloto Sam Dickson. Ele trabalhava em conjunto com Arthur Greiner quando na volta 12, uma das rodas dianteiras saiu do carro da equipe American Simplex que Greiner estava dirigindo, fazendo com que ele perdesse o controle e os dois homens fossem atirados para fora do carro. Enquanto Greiner escapava com um braço quebrado, Dickson bateu em uma cerca a 6,1 metros do carro. Relatórios da época afirmam que Dickson foi morto instantaneamente, embora a multidão evidentemente se aglomerasse ao redor do corpo, exigindo que a milícia estadual, que atuava como segurança no evento, usasse suas armas como bastões para abrir caminho para os médicos presentes.Desde essa morte até o período que a prova começa a ter a chancela da antiga USAC, morreram 39 pessoas em eventos ocorridos no completo do Indianapolis Motor Speedway, sendo 24 pilotos e o restante copilotos e espectadores. Dessas mortes, 36 delas foram em provas válidas pela Indy 500, o restante foi em eventos privados como testes de carros ou provas de arrancadas (na época o complexo era utilizado para isso).A primeira morte em Indy 500 chancelada pela USAC é datada de 1957, quando o piloto Keith Andrews, que havia sido contratado como motorista reserva para Giuseppe Farina, se acidentou num treino. Ao passar na curva quatro, Andrews tocou a grama interna que fica após a linha branca, fazendo seu carro rodar e deslizar para dentro do muro de contenção. O carro ricocheteou e depois deslizou de volta para a parede interna. A traseira empurrou Andrews contra o volante, quebrando seu pescoço e matando-o.Em corrida, a primeira morte ocorreu no ano seguinte, quando o piloto Pat O’Connor se acidentou. Segundo relatos da época, como do velho e conhecido campeão da categoria, AJ Foyt, o carro de O’Connor bateu no de Jimmy Reece, voou cerca de 15 metros no ar, pousou de cabeça para baixo e pegou fogo. Embora O’Connor tenha se queimado gravemente no acidente, as autoridades médicas disseram que ele provavelmente morreu instantaneamente devido a uma fratura no crânio.O primeiro grande nome a morrer no evento foi do primeiro Unser a correr lá, Jerry Unser Jr. O piloto corria em eventos da USAC Stock Car (precursora do que viria a ser atualmente a Nascar) e resolveu experimentar os monopostos nas 2,5 milhas do complexo de Indiana. Em sua única largada, em 1958, ele foi pego em um engavetamento de 13 carros na primeira volta e voou sobre o muro da curva três, milagrosamente saindo ileso.Seu acidente fatal ocorreu durante os treinos antes do evento de 1959, Jerry Unser Jr. perdeu o controle ao sair da curva quatro. O carro girou e atingiu muros externos e internos, o tanque de combustível do seu monoposto foi perfurado, fazendo com que ele pegasse fogo. Unser foi levado ao hospital com queimaduras e morreu devido aos ferimentos cerca de duas semanas depois, no domingo, 17 de maio. Sua morte levou o Speedway a exigir que todos os pilotos usassem uniformes à prova de fogo enquanto estivessem na pista. Os perigosos anos 60 e a última morte em corrida na década de 70No automobilismo como um todo, a década de 1960 foi a mais mortífera no que podemos chamar de “idade média” do esporte, período em que o automobilismo começaria a ter um pouco de profissionalismo e um olhar para a segurança com um pouco mais de atenção. Na década citada anteriormente, podemos citar as mortes de Tony Bettenhausen e Mike Spence como a de pilotos com mais destaque.Tony Bettenhausen, estava testando um Stearly Motor Freight Special para seu amigo Paul Russo, que iria correr no evento do ano de 1961, Eles faziam parte da chamada “Gangue de Chicago” com os companheiros de corrida Emil Andres, Cowboy O’Rourke, Paul Russo, Jimmy Snyder e Wally Zale para criar corridas de midget em todo o meio-oeste e costa leste dos EUA. Segundo relatos da época, na reta principal, o carro colidiu com o muro externo da pista e rolou 99 metros ao longo da barreira. O carro parou emaranhado na cerca em cima do muro em frente à arquibancada A (curva 1), com a traseira do carro pegando fogo. Os resultados mostraram que o acidente foi causado por uma solda que se partiu do suporte da haste do raio dianteiro, permitindo que o eixo dianteiro torcesse e desalinhasse as rodas da frente quando os freios foram acionados. Bettenhausen morreu instantaneamente.No evento de 1968, Mike Spence juntou-se a Lotus como substituto de Jim Clark, que havia morrido num acidente em Hockenheim correndo de Fórmula 2, um mês antes. Dirigindo um STP Granatelli Lotus 56 Wedge com motor turbinado, Spence perdeu o controle na curva um a cerca de 262 km/h (163 mph). Ele bateu no muro externo e deslizou ao longo da parede por quase 120 metros. A roda dianteira direita deslocou-se e atingiu-o no capacete. Spence morreu no hospital, de ferimentos graves na cabeça, quatro horas e meia após o acidente.Na década de 1970, tivemos menos mortes comparada a década anterior, sendo quatro pilotos mortos em eventos durante o período. Talvez o mais chocante e o que tenha mais registros é o acidente que vitimou Swede Savage.Swede havia estreado no evento em 1972, quando terminou em 32º depois de cair na sexta volta com problemas mecânicos. No ano seguinte, na 59ª volta da corrida, Swede Savage perdeu o controle ao sair da curva quatro. Seu carro balançou para frente e para trás, e então deslizou para o interior da pista quase em velocidade máxima. Atingiu o muro interno de entrada aos boxes em ângulo quase de frente. A força do impacto, com o carro carregando uma carga completa de combustível, fez com que explodisse em uma nuvem de chamas. O motor e a transmissão tombaram de ponta-cabeça para a entrada do pit lane enquanto Savage, ainda amarrado em seu assento, era jogado de volta ao circuito. Savage foi parar rente ao muro externo, totalmente consciente e completamente exposto enquanto estava deitado em uma poça de metanol em chamas. O piloto foi levado a um hospital com ferimentos graves, mas estava em condição estável. Pouco mais de um mês depois, ele morreu no hospital em 2 de julho de 1973. Steve Olvey postulou que a causa da morte de Savage pode ter sido o plasma contaminado de uma transfusão de sangue (contração da hepatite B que causou insuficiência hepática). Angela Savage, filha do piloto, declarou oficialmente que a causa da morte foi insuficiência pulmonar.Dos anos 80 até hojeDesde então, não tivemos mais mortes em corrida, somente em treinos que antecedem o evento principal. Em 1982, durante a qualificação, o carro de Gordon Smiley começou a perder a direção ao contornar a terceira curva, escorregando ligeiramente. Quando Smiley virou para a direita para corrigir, as rodas dianteiras ganharam aderência repentinamente, mandando seu carro diretamente para o outro lado da pista e contra o muro a quase 320 km/h. O impacto quebrou o chassi do seu March, que se desintegrou completamente, fazendo com que o tanque de combustível explodisse. Smiley morreu instantaneamente.Em 1992, durante os treinos preparatórios para o evento, Jovy Marcelo bateu no muro externo ao entrar na curva um a 277 km/h, durante uma volta de aquecimento. Marcelo morreu instantaneamente devido a uma fratura da base do crânio.E a última morte durante um evento de Indy 500 foi a de Scott Brayton, o piloto que havia conquistado a pole position para o evento de 1996 no sábado, 11 de maio. No dia 17 de maio, Brayton, testando um carro reserva, rodou no meio da curva dois, o monoposto reduziu quase nenhuma velocidade ao rodar e o lado esquerdo colidiu com a parede a mais de 320 km/h. A força era tal que a cabeça de Brayton também impactou a parede, o carro deslizou 180 metros até parar na reta final. O motorista foi encontrado inconsciente e transportado imediatamente para o Hospital Metodista. Ele foi declarado morto às 12h50 locais. Brayton morreu instantaneamente devido a uma fratura da base do crânio. Foi determinado que Brayton provavelmente atropelou um detrito na curva quatro ou na reta principal, que perfurou seu pneu traseiro direito. Sem saber dos destritos, ele completou a volta a 228,606 mph (367,906 km/h), então dirigiu para a curva um. O pneu sofreu um rápido esvaziamento na curva dois, fazendo com que o carro perdesse o controle.Desde então, não tivemos mais mortes durante as semanas de Indy 500, e os acidentes ilustrados nesse texto ajudaram a melhorar a segurança de carros, pilotos e circuitos. Podemos citar como exemplos o HANS (introduzido a partir da morte de Dale Earnhardt Jr, mas já vinha em estudos desde antes), os soft-walls e o aeroscreen. Mas, falaremos em outra oportunidade sobre isso.

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