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Opinião: Sem Luciano do Valle, não existiriam tantas paixões esportivas além do futebol

(por Jefferson Castanheira)Há sete anos perdíamos Luciano do Valle Queiroz. Nascido em Campinas, interior do estado de São Paulo, no dia 4 de julho de 1947, era filho de um comerciante e uma professora, e desde cedo mostrava uma aptidão absolutamente fantástica para ser um comunicador. Prova majoritária disto foi que aos 16 anos, Luciano começava seu trabalho que nós podemos muito bem definir como uma paixão. Na Radio Educadora de Campinas foi onde estreou sua voz e depois migrou para a Rádio Brasil, fazendo narrações de futebol, até que, convidado pelo lendário Pedro Luiz Paoliello, Luciano do Valle mudou-se para São Paulo e se consagrou de vez na Radio Gazeta e na Radio Nacional, onde trouxe para o país as ainda tão tratadas como novidade narrações de vôlei e de basquete. Em 1970, cobriu o tricampeonato mundial da nossa Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo do México, o que o catapultou de vez para a Rede Globo, onde conseguiu solidificar de vez sua presença absoluta narrando esportes além do futebol. Sua estreia na Vênus Platinada foi transmitindo o Troféu Governador do Estado de Sâo Paulo de Basquete Masculino. Mais tarde, intensificou a cobertura dos Jogos Panamericanos de Cali de 71 e as Olimpíadas no ano seguinte. Luciano narrou Fórmula 1 – inclusive o segundo título de Emerson Fittipaldi, a vitória de Jose Carlos Pace em Interlagos, o acidente que carbonizou Niki Lauda em 76… Enfim, tudo isso em uma ascensão meteórica pouco falada ainda, mas que já indicavam o quanto Luciano seria importante para a popularização da cultura esportiva no país.Luciano do Valle saiu da Globo depois da Copa do Mundo de 1982 e teve breve passagem pela Record, mas foi na Bandeirantes que Luciano do Valle conseguiu de vez atingir os corações dos brasileiros e espalhar a paixão pelos esportes, além do futebol. Como um missionário esportivo, Luciano nos trouxe o boxe, o vôlei, o basquete, a Fórmula Indy e modalidades nunca antes pensadas em transmissões brasileiras, como a sinuca que fez de Rui Chapéu uma lenda do bilhar – tão forte que em qualquer bar brasileiro você sabe o que significa seu nome, do mais novo ao mais velho jogador de sinuca. Luciano alavancou o basquete feminino, evidenciou Hortência e Paula, consagrando-as como Rainha Hortencia e Magic Paula. Luciano foi do vôlei, como era chamado “Luciano do Vôlei” por ter expandido tanto a cultura esportiva pelo país. Luciano nos trouxe a NBA e a NFL, juntamente com outra lenda do cronismo esportivo, André José Adler, que anos seguintes iniciou o primeiro campeonato de Futebol Americano do país, o Torneio Touchdown. O currículo da alma de alguém que ama as competições esportivas é muito maior que uma formação acadêmica. Luciano do Valle respirava esporte, existia pelo esporte. Falava por ele, digeria por ele. Sua paixão pelo o que torna o ser humano tão admirável ao atingir seus limites foi exacerbada em níveis que transbordaram a existência de um único ser, fazendo os telespectadores se interessarem por esportes, além do futebol que já está aqui enraizado desde o século XIX. Nós aprendemos as regras, as curiosidades, a maestria e a narrativa de cada modalidade de uma maneira quase que biológica através da voz tão apaixonada pelo que fazia Luciano. As grandes ligas do nosso continente se popularizaram entre nós, trazidas em um berço de ouro banhado pelas cordas vocais que ligavam o coração à garganta de Luciano do Valle.Conhecemos heróis de outros mares, de outras terras e também aprendemos a valorizar e enaltecer o nosso, com nossos gladiadores da sociedade que lutam tanto por apoio das grandes mídias e de empresariado para poder viver um sonho. Aliás, se eu pudesse de fato definir a existência de Luciano do Valle ao longo de seus 66 anos, que ele dividiu o mesmo espaço/tempo com a gente, seria através de alguma epifania de sonho: O garoto e a garota que enxergavam através de suas televisões com chuvisco e arame na antena, um sonho esportivo que era propagado pela voz e pela paixão de um missionário do esporte. Luciano não foi só um locutor, radialista, apresentador e empresário, ele foi um alicerce da paixão pelo esporte. E a gente sente que nos “Ses” da vida onde brincamos com as possibilidades, a não-existência de alguém como Luciano do Valle não me faria ser tão apaixonado por tantos esportes. Minha vida não teria graça sem amar o esporte, e eu devo muito isso a ele. E acredito que você também. Esporte é algo que não está apenas dentro de livros de regras e estatísticas.Esporte é algo que você encontra no coração das pessoas, e se ele é tão grande que transborda, o nosso papel é mostrar para o próximo o motivo da nossa felicidade em amar algo tão único, além do que é normal e esperado dentro de um padrão.Ao mestre, meu muito obrigado. Acredito que você que estiver lendo também tem muito o que agradecer a ele.

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