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O ano em que vimos em ação o melhor Boston Red Sox

(por Leonardo Costa – texto original publicado por Iam Browne no site MLB.com)  O êxtase e a história que o Boston Red Sox criou em 2004 teve início na dolorosa derrota na temporada anterior: um revés contra os Yankees no jogo 7 da Série de Campeonato da Liga Americana. O que não se imaginava é que ali começava um capítulo vitorioso.No dia de Ação de Graças de 2003, começava o processo que daria fim a seca de 86 anos sem títulos da franquia. Neste dia, os Red Sox concretizaram a negociação para trazer dos D-backs o estrelar pitcher Curt Schilling. Até esse momento, recordemos, Boston não tinha vencido nenhuma Série Mundial desde 1918. Muitas das piores derrotas durante esse longo período foram contra o rival Yankees, assim como a de 2003. Mas Schilling sabia o caminho para vencer a franquia do Bronx, pois em 2001, junto com Randy Johnson, bateu a franquia de New York na World Series. Com Schilling no comando da rotação, além do apoio do também excelente arremessador Pedro Martínez, o Red Sox contratou Terry Francona como técnico para o lugar de Graddy Little. O novo comandante tinha o temperamento perfeito para manejar um elenco talentoso e cheio de veteranos. Ainda que uma mega-negociação que envolvia a ida de Manny Ramírez para os Rangers em troca de Alex Rodríguez foi barrada pela Associação de Jogadores, o gerente-geral de Boston, Theo Epstein, fez outro movimento importante ao assinar com o agente-livre Keith Foulke. O Red Sox passou a ter um closer em quem podia confiar, uma peça que tanto tinha feito falta na temporada anterior. Quando os treinamentos começaram, a franquia era vista como uma equipe talentosa, ciente de suas habilidades, liderada não apenas por suas recentes contratações, mas também por novas estrelas, como o dominicanos David Ortíz e Manny Ramírez. Além deles, havia um monstro na recepção, Jason Varitek, e figuras importantes como Johnny Damon e Kevin Millar. Por fim, estavam os batalhadores Bill Mueller, Mark Bellhorn e Trot Nixon. O Red Sox começou a temporada em alto nível, com 15-4 no mês de abril. Mas, no mês seguinte, engatou uma péssima sequência de cinco derrotas. Algo não andava bem na franquia. Podia ser o descontentamento do outrora astro da equipe, Nomar Garciaparra, que tinha sido especulado em inúmeras trocas na temporada morta para abrir espaço para possível chegada de A-Rod. O jogador também havia sofrido uma lesão no calcanhar e, quando finalmente estreou no dia 9 de junho, sua mobilidade não era a mesma que antes apresentava. Durante três meses, entre 1º de maio e 31 de julho, a equipe teve aproveitamento de 50%. Com o período de trocas se esgotando, Epstein não conseguia tirar da cabeça que a equipe tinha problemas em seu quadro interior. O via como um defeito fatal, assim que fez um movimento ousado e trocou Garciaparra em uma negociação que envolveu quatro equipes e trouxe a Boston o colombiano Orlando Cabrera e o 1B Doug Mientkiewicz. Uma transação que não aparentava muita importância em um primeiro momento, além do fato que Epstein também trouxe dos Dodgers o veterano outfielder Dave Martínez. Aparentemente, Epstein adquiriu dois rebatedores que tinham médias de .246, Cabrera e Mientkiewicz. Roberts não estava muito acima, levando .253 no bastão. Em outras palavras, demorou um pouco para que a torcida digerisse tais chegadas. Mas, o gerente-geral, prometeu aprimorar a defesa e acrescentar velocidade para melhorar a equipe. Boa parte por sua postura de trocar Garciaparra, jogador que até então era a grande estrela da franquia. Passou uma semana para que as peças começassem a se encaixar e, quando conseguiram, Boston jamais voltou a olhar pra trás. A equipe foi uma máquina no restante da temporada, terminando com 40 vitórias em seus últimos 55 compromissos. O Boston Red Sox terminaria a temporada regular com 98-64, chegando aos playoffs por meio do wild card da Liga Americana após terminar 3 vitórias abaixo do rival Yankees na Divisão Leste. Quando a Série Divisional começou, foi como se a temporada regular nunca tivesse chegado ao fim para o Red Sox. O time amassou os Angels em varrida de três partidas que culminou com Ortíz conectando um HR de ouro sobre o monstro verde na 10ª entrada do jogo 3. Após deixar o primeiro desafio para trás, veio a revanche que a equipe tanto esperava. Boston enfrentaria o rival New York Yankees e teria a oportunidade de apagar a dor do ano anterior. Mas, as coisas não começaram de forma muito positiva. Schilling arremessou com uma lesão no tendão do tornozelo direito e os Yankees venceram a primeira partida da série, enquanto o pitcher era dúvida para a sequência do embate. Entoando o canto “Who’s your daddy”, os mais de 55 mil torcedores presentes no Yankee Stadium assitiram Jon Lieber superar Pedro Martínez no jogo 2. As coisas mudariam no Fenway Park, certo? Não no jogo 3. O Red Sox levou sonoros 19-8 e estava perdendo a série melhor de 7 por 3-0. Dan Shaugnessy, colunista do The Boston, publicou na época uma matéria em que afirmava: “Aqui estamos. Pelo 86º outono seguido, e o Red Sox não vai ganhar a World Series”. Era difícil ir contra tal publicação. Mas, durante um treinamento antes da quarta partida, Millar começou a incendiar o vestiário de Boston, dizendo a todos que a virada era possível. “Não vamos deixar que nos vençam nesta noite. Se ganhamos essa partida, teremos Pedro no jogo 5, Schilling no jogo 6 e qualquer coisa pode passar no jogo 7”. Os Yankees quase terminaram a série naquela noite. O panamenho Mariano Rivera, o melhor fechador do mundo, tinha a vantagem de 4-3 na parte baixa da nona entrada. Durante o seguinte meio inning, e nos quatro dias seguintes, a história de Boston mudaria para sempre. Millar negociou uma base por bolas para abrir a entrada. Roberts entrou como corredor emergente e roubou a 2B. Terminaria sendo a base roubada mais monumental da história. Mueller, sempre subestimado, conectou uma rebatida simples que empatou o placar. No 12º episódio, Ortiz fez o que sempre parecia fazer: marcar um quadrangular de ouro.  No jogo 5, Boston esteve outra vez a ponto de ser eliminado, abaixo no placar, 4-2, quando chegou na oitava entrada. Big Papi liderou o ataque com um HR solitário contra Tom Gordon. Millar recebeu um walk e Roberts voltou a sair do banco para marcar a diferença ao chegar na 3B após uma rebatida simples de Nixon. Dessa forma, Rivera entrou em campo com corredores em ambas as esquinas e sem nenhum eliminado. Uma rebatida de sacrifício de Varitek empatou a partida. Nessa altura, os Yankees já começavam a pensar que sua ida até a World Series poderia não ser tão óbvia. Adiantamos até a 14ª entrada, quando Ortiz voltou a responder, dessa vez com hit de ouro no jardim central. A partida seguinte no Yankee Stadium ficou marcada pela meia ensanguentada de Schilling. O arremessador se submeteu a um procedimento médico um dia antes para poder arremessar. Costuraram o tendão de seu tornozelo, e assim meio ‘cru’ o jogador guiou os Red Sox para um jogo 7 que parecia impossível. E como Millar havia dito alguns dias antes, qualquer coisa pode passar num jogo final de uma série. O ‘qualquer’ terminou sendo Derek Lowe arremessando com apenas dois dias de descanso de forma magnífica. Nada mal para alguém que tinha sido enviado para o bullpen no começo dos playoffs. Damon se encarregou do restante, conectando um grand slam e um HR de duas corridas para por fim à série. O Boston Red Sox venceu por 10-3, convertendo-se na primeira equipe, e a única até o momento, a virar uma série após perder as três primeiras partidas. Na final, não houve surpresas e Boston passou o caminhão por cima do St. Louis Cardinals em quatro jogos, com Schilling e Pedro exímios nos jogos 2 e 3. O jogo 4 foi a primeira vez em que se jogava uma partida de World Series sob um eclipse lunar. Mas, o feito que já havia conseguido o Red Sox, soava ainda mais raro. Em nenhum momento estiveram abaixo no placar durante a Série Mundial em 2004, e pela primeira vez em 86 anos eram campeões. 

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