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NFL Série Unidades Lendárias – “No Name Defense” e a temporada perfeita dos Dolphins

(Leandro Chagas) Os últimos anos não tem sido dos melhores para o torcedor dos Dolphins, que teve que acompanhar de perto o domínio dos Patriots de Tom Brady, Bill Belichick e companhia, na AFC Leste. No entanto, em um época um tanto quanto distante, antes mesmo de Dan Marino, era o time de Miami que dominava seus adversários, tendo aquela que é até hoje, a única temporada 100% perfeita na história da NFL, que foi coroada com um Super Bowl, e um bicampeonato no ano seguinte.Talvez a grande ironia por trás desta equipe que marcou época nos anos 70, seja o fato de que esse time vitorioso que possuía um grande ataque, teve também uma defesa dominante, que mesmo assumindo um papel de coadjuvante, acabou ficando eternizada na história da NFL. A imponente “No Name Defense” do Miami Dolphins tinha seu pilar formado pelo Hall da Fama Nick Buoniconti (LB), n° 85, que era considerado o líder daquela unidade, Bill Stanfill (DE), n°84, Manny Fernandez (DT), n°75, além dos safeties Dick Anderson n°40, e Jake Scott, n°13. Outros nomes como Vern Den Herder (DE/NT), n° 83, e o linebacker Bob Matheson tinham um papel importante, participando da rotação.Matheson inclusive era uma peça chave quando a defesa enfrentava situações adversas, e se alinhava no formato 5-3, com cinco linemens e três linebackers. Por coincidência ou não, o número pelo qual esse alinhamento é chamado, fez com que a formação ficasse conhecida como “defesa 53”, que coincidia justamente com o mesmo número que ele usava em sua camisa. Mudança de patamarA história de grandes equipes, geralmente começa pelo fato delas serem comandadas por grandes head coaches. No caso desse Dolphins que atingiu seu auge entre 1972-74, o responsável por isso era Don Schula, técnico lendário que faleceu em 2020, e que esteve à frente do time de Miami entre 1970 e 1995. Além dele, a equipe tinha ainda o coordenador defensivo Bill Arnsparger, o cérebro por trás daquela defesa e de outras unidades históricas da NFL.Após a chegada da dupla Schula e Arnsparger, justamente na época em que a NFL se fundiu com a AFL (1970), os Dolphins, fundados em 1966, deixaram de ser uma equipe moribunda, alcançando rapidamente o topo, chegando a disputa do Super Bowl VI contra o Dallas Cowboys, em 1971. Tudo isso aconteceu em apenas cinco anos após a fundação.Naquela temporada, o time de Miami já contava com um grande quarteto ofensivo, formado pelo QB Bob Griese, que foi MVP da liga naquele ano, além do WR Paul Warfield, e a dupla de RB Larry Csonka e Jim Kiick. No entanto, a defesa dos Dolphins foi a grande responsável por aquela campanha de 10-3-1 na temporada regular, onde o time alcançou oito vitórias seguidas. O linebacker Nick Buoniconti liderava seus companheiros de unidade, que paravam os ataques adversários. Em meio a isso, o safety Jack Scott conseguiu também 7 interceptações.  Origem do apelidoAté aquela temporada (1971), os Dolphins jamais haviam chegado sequer aos Playoffs. No entanto, o time surpreendeu a todo o restante da liga, conquistando o título da AFC, aoderrotar o Kansas City Chiefs e o Baltimore Colts, os dois últimos campeões do Super Bowl. Com isso, Miami se credenciou para enfrentar o Dallas Cowboys na grande decisão. Antes do Super Bowl VI, Tom Landry, head coach de Dallas, foi perguntando sobre o que ele achava da defesa dos Dolphins. O treinador respondeu que mesmo sendo um fator preocupante contra a sua equipe, ele não conseguia se lembrar de nenhum dos nomes que formavam aquela unidade, se referindo a eles como “um bando de caras sem nome”. A imprensa esportiva repercutiu aquele comentário com o apelido “No Name Defense” (Defesa Sem Nome), que ficaria marcado para sempre, ganhando ainda mais força pelo fato daquela unidade tão efetiva, ser um tanto quanto ofuscada pelo ataque do time. Landry e os Cowboys do lendário QB Roger Staubach, acabaram levando a melhor, conquistando o SB com uma vitória por 24 a 3. Durante o jogo, Buoniconti sofreu uma concussão e ficou o segundo tempo inteiro achando que o placar estava 10-3. A doloridaderrota serviu para que Miami voltasse ainda mais forte na temporada seguinte. A temporada perfeitaÉ possível dizer que nada era capaz de parar aquele Dolphins da temporada de 1972. Com a ajuda da “No Name Defense”, o time foi enfileirando cada um dos seus adversários. Nem mesma a lesão do quarterback Bob Griese, foi capaz de parar os comandados de Don Schula. Com 17 temporadas na NFL, o veterano Earl Morall, de 38 anos, assumiu a titularidade e levou Miami à 9 vitórias no restante da temporada regular, terminando com um 14-0.Com um time bastante jovem, os Dolphins contaram ainda com uma grande temporada dos seus RB Larry Csonka e Eugene “Mercury” Morris, correndo para mais de 2000 jardas. Foi a primeira vez na história da liga que um time teve dois jogadores com pelo menos 1000 jardas. Um fator crucial para isso foi o trabalho da linha ofensiva liderada por Jim Langer e Larry Little.Já do lado defensivo, a “No Name Defense” permitiu o menor número de pontos durante a temporada regular (171), ficando também em segundo lugar na NFL em interceptações, com 26. Vale lembrar que por conta das contusões, o coordenador Bill Arnsparger, criou o que ele chamou de “Defesa 53″, citada no começo do texto, na qual os jogadores trocavam de posição.Nos Playoffs, o time continuou no mesmo embalo, derrotando o Cleveland Browns e o Pittsburgh Steelers, chegando assim mais uma vez ao Super Bowl, para enfrentar oWashington Redskins. A possibilidade da temporada perfeita causou agitação, se juntando com um outro fato importante. Já que Bob Griese estava recuperado, ele poderia voltar a posição que ocupava antes da lesão, quando foi substituído por Morall.Antes do jogo, a motivação era gigantesca. Nick Buoniconti sentiu que tinha chegado a hora dos Dolphins: “Não havia como perder o Super Bowl; não havia jeito”, disse o linebacker.Don Schula optou por Grease, que já havia sido titular na segunda metade do AFC Championship Game, contra os Steelers. O título veio com uma vitória por 14 a 7, o segundo menor placar de um Super Bowl, sendo superado apenas pelo 13 a 3 de Patriots e Rams, em 2019. Assim, os Dolphins encerraram com incríveis 17 vitórias e nenhuma derrota, naquela que é até hoje a única temporada perfeita de um time na NFL.No total, nove jogadores foram selecionados para o Pro Bowl: Csonka, Morris, Warfield, Little, Evans, Buoniconti, Stanfill, Anderson e Scott. Enquanto Morrall, Stanfill e Andersonforam nomeados o 1º time All-Pro.Vale lembrar também, que nesse SB VII, a defesa de “coadjuvantes” mostrou mais uma vez a sua força. O safety Jake Scott, foi eleito o MVP da partida, registrando duasinterceptações para 63 jardas, incluindo um retorno de 55 jardas durante o último quarto. Scott tornou-se o segundo jogador defensivo na história do Super Bowl (depois dolinebacker Chuck Howley no Super Bowl V) a ganhar um prêmio de MVP. Este fato serviu para encerrar com chave de ouro aquela temporada mágica.Um fato curioso é que os Dolphins não fizeram a tradicional visita pós-jogo à Casa Branca, devido ao escândalo de Watergate. Só em 2013 eles puderam viver esse momento,proporcionado por um convite do então presidente Barack Obama.  Segundo Super BowlEm 1973, mesmo com os Dolphins não repetindo o feito histórico de conseguir uma temporada perfeita, diversos jornalistas, torcedores de Miami e fãs da NFL daquela época, dizem que o time foi até melhor que aquele que alcançou o 17-0.Diferentemente do Dolphins de 72, que durante a temporada não enfrentou nenhuma equipe que tenha terminado com um recorde superior a 8-6, o time de 73 teve um calendário duríssimo. Entre esses adversários, estavam Oakland Raiders, Pittsburgh Steelers e Dallas Cowboys (todos os times de Playoffs), além de dois confrontos contra um forte Buffalo Bills, que havia ressurgido com o RB de 2.000 jardas, O.J. Simpson.Mesmo com os adversários difíceis, Miami terminou a temporada cedendo ainda menos pontos (150), registrando uma campanha 12-2, incluindo a vitória no jogo de abertura contra os 49ers, que empatou o recorde de 18 vitórias consecutivas da NFL. A sequência de resultados positivos juntando as duas temporadas, terminou na semana dois, com a derrota de 12 a 7 para os Raiders.Daquele grande time que misturava um ataque extremamente efetivo e uma defesa imponente, chegando ao Super Bowl pela terceira vez consecutiva na temporada 1973, vários nomes ficariam eternizados. O center Jim Langer, o right guard Larry Little, além dos já citados Griese, Csonka, Warfield e Nick Buoniconti, seriam todos eleitos para o Hall da Fama do Pro Football. Fora dos campos, o general manager Bobby Beathard também foi selecionado.Voltando ao que foi feito dentro de campo na temporada de 1973, a “No Name Defense” mantinha seu domínio. Buoniconti recuperou três fumbles, retornando um deles para touchdown. Já o safety Dick Anderson, liderou a secundária da equipe, conseguindo 8 interceptações, retornando para 163 jardas e dois touchdowns, levando o prêmio de “Jogador Defensivo do Ano”. O também safety Jake Scott, MVP do Super Bowl VII, teve quatro interceptações e 71 jardas de retornadas. Além de tudo isso, o time ainda utilizava uma adaptação da “Defesa 53”, criada no início da temporada de 1971, onde Bob Matheson (nº 53) seria trazido como quarto jogador de linha em uma defesa 3-4, com o tackle Manny Fernandez. Matheson alternava entre apressar o passe e ajudar na cobertura.Para ser o primeiro time a chegar em três Super Bowls consecutivos, os Dolphins derrotariam ainda o Cincinnati Bengals e o Oakland Raiders. O bicampeonato viria contra o Minnesota Vikings, com uma grande vitória por 24 a 7, com o RB Lary Csonka sendo eleito o MVP da partida. LegadoImponente e sem nenhum tipo de ego entre seus integrantes, que aceitaram um papel de coadjuvantes diante de um ataque cheio de estrelas, a “No Name Defense” possuía ainda outros nomes menos citados que faziam jus ao apelido, como Mike Kolen, Doug Swift, Tim Foley e o cornerback Curtis Johnson, que atuou em Miami de entre 1970 e 1978.Como legado, aquela unidade deixa na história o fato de ter sido essencial para que os Dolphins chegassem em três Super Bowls consecutivos, conquistando dois deles. Aquele “bando de caras sem nome” ficaria eternizado como a maior unidade defensiva na história do time de Miami e uma das maiores da NFL.Para encerrar, deixo uma frase de Nick Buoniconti, nome eternizado no Hall da Fama:”Ao entrar em Canton (Hall da Fama), não representarei apenas Nick Buoniconti. Eu representarei uma “defesa sem nome” que tinha muitos nomes.” Confira o vídeo desta unidade lendária: https://youtu.be/E1CvpZha_EE

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