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NFL Série Unidades Lendárias – The Hogs (Redskins)

(por Eduardo Schachnik)Todas as unidades lendárias desta série se destacam por sua dominância, por uma virtude extraordinária que os fãs não vêem todo dia. Muitas delas tiveram sucesso por um curto período, outras conseguiram se manter em alto nível por mais tempo, mas poucas atingiram resultados esportivos significativos, aptos a fazer jus à sua genialidade. De todas as unidades apresentadas por nós, apenas a “Steel Curtain” deu à sua franquia mais títulos (4) do que a que lhes apresento agora: os “Hogs” de Washington.Toda a controvérsia atual acerca do nome “Redskins” seria facilmente resolvida no início da década de 90, pois a franquia poderia adotar oficialmente o apelido de sua OL, o que, com certeza, teria apoio popular, já que a torcida amava aquele time que lhes propiciou a época mais vitoriosa da franquia.“Hogs” (nome usado para descrever um porco grande) foi o termo que o coordenador de linha ofensiva Joe Bugel usou para se referir aos seus comandados durante o training camp de 1982. Composta originalmente por Russ Grimm, Joe Jacoby, Mark May, Jeff Bostic e George Starke, com uma média de 123kg por jogador e nenhum medo de se sujar, a linha era ao mesmo tempo assustadora e carismática. Todavia, a sujeira se limitava ao sentido denotativo, pois diferentemente dos adversários, que constantemente apelavam para táticas escusas ao tentar parar a temida unidade, os Hogs se orgulhavam de jogar limpo e ter excelente conduta em relação aos adversários.    Por outro lado, costumavam discutir calorosamente entre si durante os huddles, o que eles consideram um sinal de união e intimidade. Realmente eram grandes amigos, após os treinos se reuniam no “5 o’clock club”, um espaço dentro do centro de treinamento, para beber cerveja e relaxar.Eles eram os caras legais do colégio. Se divertiam juntos, faziam brincadeiras com outros jogadores, protegiam uns aos outros dentro e fora de campo, detonavam nos jogos e eram adorados pela torcida. As principais vítimas das brincadeiras eram o kicker Mark Moseley e o DE Dexter Manley, entre as pegadinhas estavam trotes constantes se passando por repórteres e até mesmo um “passeio na lama” para Moseley, que se importava muito com sua aparência.Nessa analogia, Joe Theismann era a criança excluída que queria se juntar ao grupinho popular, mas os Hogs tinham uma forte política “no-quarterbacks”. Uma vez, após fazer um bloqueio em uma partida, Theismann se declarou “honorary piglet” (porquinho honorário), porém, mais uma vez sua tentativa de se enturmar foi frustrada pelos Hogs, que basicamente ignoraram a declaração.Por outro lado, o grupo abria exceção para um e apenas um jogador: John Riggins. O corredor de personalidade forte era muito respeitado, pois os bloqueadores sabiam que Riggins batia tão pesado quanto qualquer um deles (o que esperar de alguém conhecido como “the Diesel”?). O running back, que adorava o contato, era perfeito para o estilo de jogo do ataque e mantinha a sincronia fora do campo, conquistando o título de “honorary hog”.Se os Hogs eram os caras legais, Riggins era o rebelde, temido pelos diretores e admirado até mesmo pelos mais populares. Com uma atitude desafiadora, Riggins escapava constantemente de punições por seu comportamento no mínimo exótico no vestiário, graças a seu rendimento nos gramados. Uma figura folclórica, era quase como se os Hogs quisessem mais que ele fizesse parte do grupo do que o contrário.Completando “a família Hog”, por ser o criador do apelido e o comandante do esquadrão, Bugel era às vezes conhecido como “boss hog” (o chefão dos porcos). Uma das maiores mentes ofensivas, especialmente quando se trata de OL, Bugel era muito bom em incentivar seus atletas. Starke conta que certa vez, nos playoffs de 1983, antes de um confronto contra os Rams, o coordenador disse que os adversários haviam urinado no símbolo dos Redskins no último treino pré-jogo. Aquilo inflamou demais seus comandados, que deram a resposta em campo com um sonoro 51×7. Mais tarde, descobriram que tudo não passou de uma artimanha de Bugel.O “boss hog”, mais do que treinador, era um pai e professor. Os jogadores eram muito jovens quando chegaram nas mãos de Bugel, o que lhe permitiu moldar não só o jogo, mas o próprio caráter dos atletas. Extremamente preocupado com a técnica, Bugel demandava perfeição de seus comandados, muitas vezes exagerando no tom e constantemente atirando coisas ao redor do vestiário em acessos de raiva, contudo, era igualmente enérgico na hora de elogiar e cuidar dos seus garotos.A origem do Hogs remonta a 1981, quando Joe Gibbs assumiu seu primeiro time como treinador principal e Joe Bugel foi contratado para coordenar a OL. Naquele primeiro ano a linha ofensiva foi formada por quatro calouros e o segundanista Bostic, que recebia sua primeira chance como titular.No ano seguinte, com a temporada regular reduzida a 9 jogos em razão de uma greve dos jogadores, o Redskins liderou a NFC com uma campanha 8-1, mesmo sendo um dos elencos mais jovens da liga com média de 3,7 anos de carreira por jogador.É verdade que o sucesso daquela temporada não é mérito exclusivo da linha ofensiva: a defesa liderou a liga em pontos cedidos, o ataque aéreo contava com o eficiente grupo de recebedores conhecido como “Fun Bunch” e o Kicker Mark Moseley se tornou o primeiro e único jogador da posição a ser eleito MVP.O ano de 1982 simbolizou uma passagem de coroa na NFC East, pois o Dallas Cowboys, que já tinha 2 troféus Vince Lombardi, dominava a divisão com 4 títulos seguidos até então, quando finalmente o Redskins conseguiu superá-lo. Acontece que a virada não estaria completa sem uma vitória na pós-temporada. Enquanto venciam o Vikings na segunda rodada dos playoffs, a torcida clamava enlouquecidamente por um confronto com os grandes rivais: “We want Dallas”.O pedido foi atendido e a final de conferência daquele ano foi eletrizante. Com muita tensão no ar e uma energia incrível vinda da arquibancada, o Washington Redskins só conseguiu abrir vantagem no último período, com um touchdown e um field goal que deixaram o placar em 31×17. Uma vez na liderança, Gibbs se encheu de confiança em sua magnífica OL e chamou a mesma corrida 9 vezes seguidas! John Riggins terminou o jogo com 140 jardas e 2 touchdowns.Na final os Redskins derrotaram os Dolphins com 166 jardas corridas de Riggins e 276 jardas corridas totais (recorde do SB até então), conquistando assim o primeiro título de Super Bowl da franquia. Naquela temporada, Gibbs foi eleito técnico do ano e Riggins MVP do Super Bowl, coroando a maior exibição de um running back na história dos playoffs.Em 1983, com Joe Bugel promovido à assistente de Joe Gibbs, o time liderou a liga em touchdowns terrestres e marcou 541 pontos na temporada regular, o ataque mais prolifico que a NFL já vira até então. Gibbs foi eleito pela segunda vez consecutiva o técnico do ano e o troféu de MVP continuou em Washington, agora com Joe Theismann. O time voltou ao Super Bowl, porém acabou derrotado pelo Raiders.O time voltaria a conquistar o título na temporada de 1987, coincidentemente também marcada por uma greve, que dessa vez só reduziu a temporada em 1 partida. Novamente se valendo do jogo terrestre, a equipe avançou nos playoffs até o Super Bowl, onde atropelou o Broncos de Elway por 42×10, superando o próprio recorde de mais jardas terrestres em um Super Bowl com 280.Após não conseguir a classificação para a pós-temporada nos dois anos seguintes ao título, os Redskins voltou aos playoffs em 1990. No entanto, o jogo corrido não foi o bastante para competir com os 49ers liderados por Joe Montana e o time caiu no round de divisão.Finalmente, a equipe voltou a ter o melhor ataque da liga em 1991, restabeleceu a dominância do jogo corrido nos playoffs e conquistou mais um troféu ao derrotar o Buffalo Bills (o segundo dos quatro vice-campeonatos consecutivos do Bills). Joe Gibbs foi eleito, pela terceira vez técnico do ano.1992 foi o último ano da era vitoriosa do Redskins. Já sem George Starke e Mark May, o time só foi parado pelos 49ers na final de conferência. No ano seguinte, agora também sem Russ Grimm e Joe Jacoby, a equipe despencou para uma campanha de 4-12 e o último dos Hogs original deixou a equipe quando Bostic se aposentou ao fim da temporada.Nas 12 temporadas em que contou com os Hogs, o Washington Redskins teve apenas um ano com mais derrotas do que vitórias e chegou a 4 Super Bowls, vencendo 3 deles. Tiveram um recorde de 124-62 na temporada regular e 16-6 nos playoffs. A unidade se destaca também pela lealdade, pois  quatro componentes da linha original (Grimm, Jacoby, Bostic e Starke) e um tight end (Don Warren) jogaram toda a carreira pela franquia.Os Hogs foram mania na capital americana e ao redor do país. Um grupo de torcedores fundou, em 1983, as “hogettes”: espécie de torcida organizada composta por homens vestidos de senhoras, todos com um focinho de porco. O grupo se aposentou em 2012 após 30 anos de muita contribuição na arquibancada e fora dela: por meio de várias ações os “hogettes” arrecadaram mais de 100 milhões de dólares para instituições de caridade.Gibbs e Bugel voltaram a se reunir em Washington entre 2004 e 2009. Por mais que tenham novamente desenvolvido uma boa OL, que permitiu ao corredor Clinton Portis atingir marcas impressionantes na liga, o time não chegou perto das conquistas da primeira passagem dos treinadores.Tal como a afeição da torcida, a amizade entre os Hogs perdura até hoje. Os ex-companheiros de time mantém laços íntimos entre si e com o apelido. Alguns aproveitaram o sucesso da alcunha para impulsionar negócios, como o Mark May’s Hog Cookbook e a Head Hog BBQ de Starke. Essa “tradição” começou com o prórprio Starke, em 1983, quando convenceu os companheiros a investirem 500 mil dólares cada, para formar a Super Hogs, uma empresa que vendia todo tipo de mercadoria temática da unidade: camisetas, pôsteres e até mesmo cerveja.Conheça a Família HogsJoe Bugel (OC) – Boss HogGeorge Starke (RT) – Head Hog: O veterano da unidade, 10 anos mais velho que os demais, jogou de 1973 a 1984 nos Redskins. Foi capitão por 5 anos e era conhecido como o Head Hog. Graduado em física pela prestigiosa Universidade de Columbia, onde recebeu a mais alta honraria pelo excelente retrospecto acadêmico, Starke teve um começo de carreira conturbado, draftado e rapidamente cortado por Washington em 1971, só voltou ao time como agente livre dois anos depois, quando se firmou como right tackle titular.Russ Grimm (G) – Hog: O mais condecorado e único representante da unidade no Hall da Fama, esteve presente nas três conquistas de Super Bowl e foi 4 vezes eleito para o primeiro time da liga. Jogou entre 1981 e 1991.Joe Jacoby (LT) – Hog: Vencedor de 3 Super Bowls e 3 vezes eleito para o first team All-Pro. Joe Jacoby chegou aos Redskins como undrafted free agent, em 1981. O jogador havia feito um treino com Bugel antes do draft, no qual saiu extenuado após duas horas e meia de trabalho intenso, o que o levou até a pensar se realmente queria jogar na NFL. No training camp ele escalou o plantel e se tornou left tackle titular, onde jogaria por 13 anos entre 1981 e 1993.Mark May (G) – Hog: Escolha de primeiro round em 1981, conquistou 2 títulos de Super Bowl e foi eleito uma vez para o Pro Bowl. Deixou a equipe em 1991 após ficar uma temporada fora por lesão.Jeff Bostic (C) – Hog: Eleito para a seleção da liga, em 1983, é mais um que esteve presente nas três conquistas da equipe. Jogou somente pelos Redskins, entre 1980 e 1993.Don Warren (TE) – Hog: Excelente bloqueador, 3 vezes campeão do Super Bowl, jogou 14 temporadas pelos Redskins (1979-1992).Rick Walker (TE) – Hog: Esteve na formação original entre 1980 e 1985, auxiliando muitas vezes no bloqueio em formações com 2 tight ends. Foi campeão do Super Bowl, em 1983.John Riggins – Honorary HogJohn Theismann – Honorary Piglet

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