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NFL Série Unidades Lendárias – Gritz Blitz (Falcons)

(por Eduardo Schachnik) 1977 foi o ano em que as defesas dominaram completamente a NFL, dentre elas a mais “mesquinha” (pão-dura na hora de ceder pontos aos adversários) era a Gritz Blitz, do Atlanta Falcons. Talvez por conta do sucesso fugaz e pela falta de grandes conquistas, essa unidade seja pouco lembrada e celebrada com o passar do tempo, perdendo espaço para a contemporânea e supervitoriosa Steel Curtain, mas naquele ano nenhuma defesa superou a do Falcons e os números estão aí para provar.Em 1976, o Atlanta Falcons encerrou mais uma temporada de derrotas (4-10) passando vexame contra os Rams (59×0) no último jogo. No ano seguinte, sob o comando do novo treinador, Leeman Bennett, a expectativa era que mais uma vez o time figurasse no fundo da tabela, no entanto, na abertura da temporada, em um reencontro com os Rams, Atlanta, para surpresa geral, não só evitou uma humilhação, como venceu o jogo por 16×7, limitando o melhor ataque corrido da NFC a 59 jardas. O recado estava dado.A defesa de Atlanta em 1977 detém o recorde de menos pontos sofridos em uma temporada de 14 jogos, com um total de 129 pontos cedidos, o que dá uma média de 9,2 pontos por jogo, recorde que perdura até hoje. Metade dos oponentes que encararam os Falcons não passaram dos 7 pontos, o time sofreu apenas 9 touchdowns aéreos e 5 terrestres, enquanto liderou a liga com 48 turnovers: 26 interceptações e 22 fumbles recuperados, além de 42 sacks! Ainda, foi a equipe que menos cedeu primeiras descidas e jardas aéreas, a quarta melhor contra corrida e segunda melhor em jardas totais cedidas.Para se ter uma ideia, os Ravens de 2000 são os donos do recorde no formato atual de 16 jogos, com um total de 165 pontos sofridos, o que pela média dos Falcons, seria facilmente superado. Ainda colocando em perspectiva, na temporada 2019 os Bucs sofreram mais pontos (139) somente nos 4 primeiros jogos.O maior responsável por esse trabalho brilhante não foi um jogador, afinal, apenas o corner back Rolland Lawrence e o defensive end Claude Humphrey (hall da fama) chegaram ao Pro Bowl naquela temporada. O grande comandante da defesa era o técnico de secundária Jerry Glanville, que projetou o esquema que ficou famoso como “Gritz Blitz”. Na época, o time não possuía um coordenador defensivo, apenas assistentes para cada unidade da defesa, assim a proposta de Glanville foi logo adotada pelo jovem treinador principal.Glanville era uma figura exótica, famoso por deixar sempre ingressos reservados para Elvis Presley na bilheteria, bem depois da morte (será?) da estrela, assim como adorava dirigir, chegando até mesmo a competir na NASCAR. No futebol americano, era conhecido, e mau visto, entre seus pares por ter um estilo agressivo e até mesmo maldoso.A defesa que implementou em Atlanta seguia sua linha: agressiva e veloz, abusando das blitzes, como o próprio nome já indica, com a única intenção de causar o caos no ataque adversário. O treinador não tinha medo de usar todos seus jogadores em blitz, linebackers, corners e safeties, de forma que o ataque nunca sabia de onde viria a próxima. Por vezes, 9 jogadores saíam à caça do QB em uma estratégia suicida, mas efetiva, conhecida como “sticky sam”. Claude Humphrey uma vez declarou que eles não se importavam com a formação que o ataque usava, o plano era sempre mandar mais jogadores atrás do quarterback do que os adversários poderiam bloquear.Por mais que fosse fenomenal, a defesa não foi capaz de dar uma temporada vitoriosa ao time (7-7), o que se deu por conta do ataque lastimável, tão ruim quanto a defesa era boa. Ainda assim, graças àquela unidade, Atlanta foi possivelmente o mais temido “7-7 team” da história, ao menos a defesa foi certamente uma das melhores de todos os tempos.Uma vez, enquanto treinava o Houston Oilers, Glanville disse que a sigla NFL significava “not for long” (não por muito tempo), ao se referir a um árbitro que, na sua opinião, fez péssimas chamadas e por isso o juiz logo perderia o emprego. Uma pena que a criativa fala do treinador possa ser usada contra ele, uma vez que a Gritz Blitz passou como um cometa pela liga.Em 1978, embora o time tenha melhorado o retrospecto (9-7) e chegado aos playoffs, a defesa caiu muito de produção, cedeu o dobro de pontos por jogo (18.1) e não voltaria mais ao ritmo arrasador de 1977, nem mesmo após Glanville ser promovido a coordenador de defesa em 1979, nem quando voltou à franquia em 1990 para ser treinador principal.Ainda que o sucesso tenha sido efêmero, é difícil imaginar alguma defesa superando o feito da Gritz Blitz, uma vez que a liga tem prezado cada vez mais pelo ataque. Desse modo, parece seguro dizer que essa defesa foi e continuará sendo por um bom tempo, a mais muquirana da história.

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