(por Marcos André)Começo esse texto já sabendo que corro o risco de sofrer um linchamento virtual – mas, antes de mais nada, peço um pouco de paciência. Como dizer que um QB de 25 anos que já foi MVP da liga e do Super Bowl e acabou de assinar um dos maiores contratos da história dos esportes não é o melhor QB da NFL? Mahomes não tem demérito nenhum nessa questão. Mas, Russell Wilson tem méritos de sobra. Há anos, o camisa 3 de Seattle transforma o impossível em rotina e merece ser considerado o melhor lançador da liga. Maestro de uma ‘banda de um homem só’, Wilson é, há muito tempo, o faz-tudo do ataque dos Seahawks. E de tanto vermos isso, nos acostumamos. Vamos pegar a temporada de 2017 de Seattle com uma estatística, no mínimo, inacreditável. Ela nos dá a dimensão do que estou falando. Entre 1978 e 2017, 1.145 times fizeram 16 jogos numa temporada regular. O jogo terrestre dos Seahawks – descontando as jardas de Wilson – ficou em… 1.137.Isso mesmo: só 8 QBs contaram uma participação tão ruim dos RBs em QUARENTA ANOS. O principal corredor do time teve, na temporada INTEIRA, 240 jardas. Então a temporada dos Seahawks foi um desastre, certo? 4-12? 6-10? Nada disso. Russell Wilson deu um jeito de ganhar nove partidas e ficou a um passo de carregar o time à pós-temporada. De novo. É inacreditável.Se, durante muito tempo, o jogo terrestre em Seattle passou a ser inexistente, é de se imaginar que a OL não era grande coisa. Bingo. De acordo com o PFF – site que traz análises estatísticas bem aprofundadas – após 2019 a linha ofensiva dos Seahawks era a terceira pior da liga.Com uma proteção não muito confiável e sem válvulas de escape, é de se imaginar que Wilson force muitos passes e sofra com muitos turnovers, certo? Errado. Em 2017 foram onze interceptações. Em 2018, sete. No ano seguinte, CINCO. Wilson é tão imprescindível para os Seahawks, que é simplesmente inaceitável que ele ainda não tenha sido eleito MVP da liga.No corpo de recebedores, por muito tempo, a situação não foi diferente. Wilson cansou de transformar jogadores medíocres em alvos decisivos. Onde está Jermaine Kearse – que colocou os Seahawks no Super Bowl, com um TD de 35 jardas na prorrogação da final da NFC – nos dias de hoje? Sem time. O que ele fez sem Wilson? Nada. E Luke Wilson, TE que fez uma dupla com seu xará e também foi decisivo nos playoffs? Depois que saiu de Seattle, sumiu.Dizer que Mahomes não é o melhor QB da liga não é, de forma alguma, tirar o mérito do jogador dos Chiefs. Não tenho a menor dúvida que ele vai se aposentar como um dos melhores – ou, quem sabe, até o melhor – jogador da história. Essa é a terceira temporada como titular para o QB de Kansas City – e a nona para o de Seattle. Eles estão em momentos distintos da carreira.Antes de encerrar, quero sugerir uma reflexão: se os dois trocassem de lugar, quem teria mais sucesso? Tenho certeza de que Wilson, num ataque comandado por Andy Reid (uma das melhores mentes ofensivas da história da liga), tendo Travis Kelce e Tyreek Hill à disposição, teria uma vida mais fácil do que tem em Seattle. E Mahomes, se jogasse num ataque absurdamente limitado, como aquele dos Seahawks de 2017, teria o mesmo sucesso que Wilson teve? Acho difícil.Mahomes é gênio, lenda… só não é o melhor QB da NFL. Ainda.
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