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Futebol

Lições aprendidas pelo mundo do futebol com o título do Chelsea

(por Rafael Lima) A edição 20/21 da UEFA Champions League terminou neste sábado (29) com o título do Chelsea após vencer o Manchester City por 1 a 0, no estádio do Dragão, em Portugal. Toda conquista é histórica, mas esta quebrou alguns paradigmas do mundo do futebol e existem pontos que precisam ser abordados. Vamos lá.O Chelsea tem o melhor elenco da Europa? Não. Alguém do elenco é favorito ao Bola de Ouro? Também não. Tem o futebol mais vistoso? Claro que não. Conquistou algum outro título este ano? A resposta também é negativa. O trabalho de Thomas Tuchel teve o tal tempo de maturação? Longe disso. Então, como este time conseguiu conquistar o título mais cobiçado da Europa? Isso é o que, com um pouco de argumentação, vamos tentar entender, indo na contramão do que muitos pregam como o ideal para o futebol Trocar de técnico é algo positivoO tempo de trabalho é importante em qualquer profissão e, na de técnico de futebol, isto é fundamental. Porém, quando você tem uma alta capacidade naquilo que faz e consegue enxergar de fora os defeitos e soluções para a companhia onde está entrando, é possível cortar caminhos e mudar o curso das coisas rapidamente.Frank Lampard deixou o comando dos Blues após quatro vitórias e dois empates na fase de grupos da Champions League, porém, a fraca campanha na Premier League expôs alguns defeitos, que preocupavam a direção, O time, mesmo tendo dois protetores no meio-campo como Kanté e Jorginho, e zagueiros do nível de Thiago Silva e Rudiger, sofria muito defensivamente. Além disso, jovens como Mount e Havertz não se desenvolveram sob o comando do ídolo como a direção esperava. A tentativa de jogar como protagonista e com poucas variações táticas deixavam a equipe previsível demais.Sendo assim, porque dar mais tempo para um trabalho que demonstrava limitações claras, tendo disponível no mercado um treinador comprovadamente estrategista como Thomas Tuchel. Tuchel chegou e, rapidamente, resolveu o problema defensivo com posicionamento simples. Percebeu a velocidade de seus jogadores e entendeu que o time seria letal nos contra-ataques. Trabalhou a transição como um mantra: roube a bola, encontre um meia e este ligará as pontas com velocidade, pegando a defesa adversária mal colocada. E assim, uma equipe que não conseguia propor o jogo com eficiência, sofrendo na defesa, se tornou um time sólido e letal. Tudo porque o clube soube trocar de treinador no momento certo, sem esperar dar errado para fazer a mudança. Volante de contenção é a posição mais importante para um time campeãoDesde a “era Dunga” a posição de volante é criticada, crucificada e colocada até de forma pejorativa. Isso acontece porque muitos times usam jogadores que só sabem destruir nessa função. Porém, um volante eficiente pode mudar o patamar de uma equipe. Mas, o que pode tornar um jogador desta função tão importante? Se o seu clube tem um “cabeça de área” que é incansável, sabe cobrir espaços, segura contra-ataques e tem raça e inteligência para jogar, a sua defesa estará protegida. Mas, se esse jogador sabe dar a primeira saída de bola com qualidade, tem bom passe, consegue se projetar ao ataque como um elemento surpresa e a capacidade de preocupar o adversário defensivamente também, ele pode se tornar a peça mais importante do time, pois consegue ser eficiente dos dois lados do campo, sendo um jogador que “vale por dois”. Esta é a única função que proporciona isto a um time e Kanté é exatamente o jogador descrito acima. Sorte do Chelsea. A posse de bola não aumenta as chances de um time ganhar o jogoDe um tempo para cá, muito é falado sobre valorização da posse de bola. Isto se potencializou na época do grande Barcelona de Guardiola e da Seleção da Espanha campeã do mundo com o famoso Tiki-Taka. Ficar com a bola é fundamental desde que seu time saiba o que fazer com ela. A verticalidade é muito mais importante. No esquema de sucesso de Guardiola no Barça, Messi, Iniesta e companhia atacavam em projeção, com passes de lado até achar os espaços para verticalizar, porém, não é sempre que se tem Messis e Iniestas num elenco, então, se uma equipe entende suas limitações, dar a bola para o adversário pode ser muito eficiente.O Chelsea tem Timo Werner, jogador limitado tecnicamente, mas que corre como poucos. Tem Mount, que apesar de cerebral, ainda é muito jovem, mas com sua visão de jogo e toques rápidos pode ligar contra-ataques. Kanté e Jorginho desarmam muito bem e tem bom passe, Pulisic, Havertz e Ziyech são habilidosos, mas jogam melhor em velocidade. Com todas essas características, porque tentar construir contra defesas bem postadas, quando você pode roubar a bola e partir em velocidade contra sistemas defensivos despreparados? Jogadores de futebol gostam de inovaçõesMuitos jogadores e ex-jogadores torcem o nariz para treinamentos que não estão acostumados. Em geral, o ser-humano quando exerce uma função há algum tempo, não aceita bem quando é colocado a ele fazer a mesma atividade de forma diferente. Porém, Thomas Tuchel foi na contramão disso. O treinador alemão inovou com treinos de basquete, desafios de controle de bola, divisão do campo em zonas maiores e menores para cada atleta, tudo de forma didática e sendo proposto de forma amigável, sem imposição, fazendo os jogadores treinarem com alegria. Funcionou, o time de Tuchel acerta mais passes e dribla mais do que o de Lampard. O que define um título não é ter o melhor elencoTudo o que foi colocado acima mostra que são vários fatores que tornam um time campeão. Investimento e planejamento são importantíssimos, mas correções de rota, um bom ambiente, a valorização e o entendimento da própria capacidade, unidos ao trabalho intenso e honesto, conseguem transformar um azarão em campeão. Parabéns ao Chelsea por quebrar “verdades absolutas” do futebol e conquistar a Europa de forma merecida.

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