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NBA

A história do arremesso de 3 pontos na NBA

(por Vinícius Freitas) É fato que nos dias atuais, os arremessos de 3 pontos se tornaram padrão entre as equipes, mas nem sempre a NBA possuiu essa pontuação para os chutes longínquos, sendo esse atributo incluído na liga por conta de uma rivalidade com outra liga nos anos 70, a ABA (American Basketball Association), que chegou a ser a mais midiática liga de basquete dos Estados Unidos e foi a principal concorrente da NBA na história. Apesar da ABA ter sido a liga que colocou os três pontos em evidência no cenário do basquete, houveram algumas tentativas anteriores de utilização da mesma, porém, todas sem êxito.A primeira tentativa de utilização da linha de três pontos foi em 1945, em um jogo disputado pelas equipes colegiais de Columbia e Fordham, sendo definida a distância frontal de 6.40m, porém, a linha de arremesso não foi mantida como regra. Ligas colegiais e amadoras realizavam novas tentativas de inclusão da linha de 3 pontos, mas nenhuma delas caia nas graças dos jogadores e do público. A primeira liga de basquete a incluir o arremesso nas regras oficiais foi a extinta ABL (American Basketball League, que teve apenas a temporada 61/62 disputada, tendo iniciado suas atividades em 1961 e encerrado em 1963), que tinha como principal dirigente Abe Saperstein, proprietário da lendária franquia dos Harlem Globetrotters e também do Chicago Majors. Saperstein inovou em algumas regras do jogo, como o aumento de distância dos lances livres e também em um arremesso que valesse mais pontos, visando acrescentar mais emoção em finais de jogos com diferença baixa de pontos. A distância frontal inicial foi de 7.62m, o equivalente a 25 pés (medida utilizada nos Estados Unidos), mas, pouco tempo depois, em votação realizada com os outros 7 proprietários da ABL, foi decidido diminuir a distância para 6.70m (22 pés), porém, Saperstein, que era muito influente no cenário do basquetebol americano, não concordou com a mudança, alegando que era uma proporção muito alta de redução da distância inicial e manteve os 7.62m. Posteriormente, devido a escassez na execução dos arremessos de 3 pontos, Saperstein reconheceu que a ideia, apesar de inovadora, não teria grandes finalidades para a liga, e mesmo mantendo a distância frontal inicial, adaptou o arco de marcação, deixando as laterais da quadra com 6.70m de distância. Após o encerramento das atividades da ABL, em 1963, a linha de três pontos foi adotada pela Eastern Professional Basketball League na temporada 64/65, com o mesmo padrão de distância proposto por Saperstein, mas, como não era uma liga tão popular, a inovação acabou não tendo muita repercussão na mídia.A grande mudança do basquete começou a ser desenhada com o início das atividades da já citada ABA (American Basketball Association), na temporada 67/68, com o ex-astro da NBA, George Mikan (5 vezes campeão pelo Minneapolis Lakers e um dos maiores pivôs da história da liga) como comissário, que assim como Saperstein, tinha em mente criar uma liga com inovações, adotando a linha de três pontos (dessa vez com 7.24m de distância frontal e 6.70m na zona morta) e algumas outras mudanças inseridas na extinta ABL. Mikan também tinha em mente que jogadores mais baixos poderiam ter essa inovação como algo positivo, por conta da envergadura menor e a diferença de estrutura física em jogadas de infiltração do garrafão, deixando o jogo mais versátil. Com o arremesso de três pontos, o padrão de cores da bola (azul, branca e vermelha, cores da bandeira dos Estados Unidos) e o campeonato de enterradas na temporada 75/76, a ABA foi crucial para a evolução do basquete, alcançado públicos maiores e tendo mais notoriedade que a NBA na mídia, dominando os holofotes do basquete americano nos anos 70. A ABA foi responsável pela revelação de grandes nomes do esporte como Moses Malone, Julius Erving, George Gervin, Dan Issel, Artis Gilmore, George McGinnis, Spencer Haywood, David Thompson e Connie Hawkins (que viriam a atuar na NBA posteriormente), além de contar com alguns ex-jogadores da NBA, como Zelmo Beaty e Rick Barry. A ABA teve seu fim depois da temporada 75/76, entrando em fusão com a NBA, que teve quatro novos membros a partir da temporada 76/77: San Antonio Spurs, Denver Nuggets, Indiana Pacers e o New York Nets (atual Brooklyn Nets). Grande parte dos jogadores das outras equipes que integravam a ABA, completaram o plantel de outras franquias da NBA, trazendo mais competitividade, qualidade e também o público que acompanhava a extinta liga.A linha de três pontos foi adotada pela NBA na temporada 79/80, com os mesmos padrões da extinta ABA (7.24m de distância frontal e 6.70m na zona morta), tendo sua primeira cesta anotada no dia 12 de Outubro de 1979, pelo ala-armador Chris Ford, do Boston Celtics, na vitória da equipe por 114-106 sobre o Houston Rockets, que também teve uma cesta de fora anotada por Rick Barry. Apesar de não ser uma arma muito utilizada no começo de sua trajetória, foi considerada uma mudança significativa, e a FIBA (Federação Internacional de Basquete), organização responsável pela disputa de basquetebol entre seleções, também abraçou a inovação em suas competições no ano de 1984, após o término das Olimpíadas de Los Angeles, porém, adaptando a distância frontal para 6.25m. Somente em 2008 a FIBA decidiu alterar a distância, que é de 6.75m até os dias atuais, visando diminuir a disparidade com a NBA (liga que mais fornece jogadores para as competições de basquete no mundo junto com a Euroliga) e também equilibrar o nível técnico das equipes.Nas 9 temporadas disputadas na ABA, a média de tentativas de arremesso das equipes por jogo variou entre 3.7 e 6.3, com o Indiana Pacers sendo o time que mais utilizou o artifício na existência da liga. Já na NBA, as 5 primeiras temporadas tiveram uma média de menos de 3 arremessos por jogo de cada equipe. Os arremessos foram aumentando gradualmente, mas, foi apenas na temporada 94/95 que a liga teve uma mudança significativa, passando de 9.9 para 15.3 por jogo, sendo um diferencial para algumas equipes que não tinham um jogo forte no garrafão, sendo mais versáteis nas finalizações de jogadas.O primeiro time a explorar os tiros longos foi o New York Knicks da temporada 88/89, com 14.0 tentativas e 4.7 cestas por jogo (0.337%). O treinador da época, Rick Pitino, queria que a equipe não fosse vista apenas como o time de forte garrafão, formado por Pat Ewing e Charles Oakley, e começou a treinar alguns padrões de ataque incluindo os arremessos de três pontos, explorando um dos melhores arremessadores da época, Trent Tucker (1.5 cestas, 3.7 arremessos, 0.399%), além dos bons números de Johnny Newman (1.2 cestas, 3.5 arremessos, 0.338%) e Mark Jackson (1.1 cestas, 3.3 arremessos, 0.338%). Jogadores especializados no quesito foram aperfeiçoando o quesito durante os anos 90, evoluindo o aproveitamento e se tornando peças importantes e essenciais para o ataque das equipes. Nomes como Steve Kerr, Reggie Miller, Hubert Davis, Glen Rice, B.J. Armstrong (que supriu a saída de outro especialista do assunto no Bulls, Craig Hodges, que acabou deixando a equipe por problemas que teve fora de quadra com Michael Jordan), Wesley Person, Dana Barros, Jeff Hornacek, Mark Price, Brent Barry, Dale Ellis e Dell Curry, são exemplos de jogadores que encerraram as suas carreiras com mais de 40% de acerto arremessando de fora do garrafão.A equipe que popularizou os três pontos foi o Phoenix Suns comandado por Mike D’Antoni (de 03/04 até 07/08), onde alcançou as finais de Conferência do Oeste nas temporadas 04/05 e 05/06. O time tinha um contra-ataque rápido e mortal, com um elenco recheado de ótimos arremessadores, tendo seu estilo de jogo apelidado de “run and gun”. A franquia do Arizona contava com Steve Nash, Joe Johnson, Jim Jackson, Shawn Marion, Raja Bell e o brasileiro Leandrinho, todos muito bons nos tiros de longa distância, fazendo os adversários sofrerem com o inovador padrão ofensivo e eficiente do time. Depois do sucesso dos Suns, outras equipes começaram a se preocupar com a eficiência dos tiros longos, e também adotaram o padrão como principal arma, começando uma mudança no padrão do jogo, que nos anos 90 e até meados dos anos 2000, era focado no garrafão. É claro que não podemos falar de arremessos de três pontos sem citar o Golden State Warriors de Stephen Curry e Klay Thompson. Os Warriors dos “Splash Brothers” surpreenderam a todos, onde abriam vantagens altas e viravam placares com dois dígitos de diferença em pouquíssimo tempo, com um estilo de jogo tão mortal e frenético quanto o do Suns. Os “Splash Brothers” logo deixaram seus nomes escritos na história com recordes individuais, como o maior número de cestas de três em uma temporada alcançada por Stephen Curry (402 na temporada 15/16), e o maior número de cestas de três no mesmo jogo, anotado por Klay Thompson, com 14 cestas, na vitória por 149-124 sobre o Chicago Bulls, no dia 29/10/2018, onde o astro fez 52 pontos em 26 minutos. Além do aperfeiçoamento do estilo de jogo do Suns, os Warriors foram os responsáveis pela mudança de jogo da liga não só pelo carisma e sucesso individual de sua dupla, mas também por conta dos títulos (3 títulos conquistados em 5 finais consecutivas) e do poder ofensivo da equipe, que ainda contou com Kevin Durant, Harrison Barnes, David Lee e o ótimo defensor Draymond Green, que ditava o jogo da equipe em alguns momentos importantes.Analisando a temporada de 18/19, cada time arremessa em média, 32 vezes por jogo, mostrando a importância do artifício para uma equipe que almeja ter sucesso na liga. O Houston Rockets vem batendo o recorde de arremessos por jogo desde a temporada 16/17, onde encerrou com média de 40.0 arremessos, depois subiu para 42.3 em 17/18 e 45.4(!) em 18/19 (tendo mais arremessos de 3 pontos por jogo do que de 2 [42.0] na temporada 18/19).Diferentemente das décadas passadas, que tinha o jogo centralizado no garrafão, atualmente temos o perímetro como foco das equipes, e apesar de existirem excelentes pivôs, que arremessam de qualquer lugar da quadra, dão assistências e também conseguem jogar o jogo “clássico” de garrafão, temos um número limitado de pivôs que realmente defendem bem a zona pintada, porém, não sendo algo tão relevante para as equipes, tendo como bom exemplo disso, o Golden State bicampeão, com Zaza Pachulia e JaVale McGee de pivôs, que são bem limitados tecnicamente.Sinto falta de pivôs como Shaq, Garnett e Duncan, mas também acho divertido assistir o Golden State de Curry e Thompson. Mesmo com épocas tão diferentes no estilo de jogo, continuo admirando e querendo cada vez mais saber não só como será o futuro, mas também conhecer o passado da liga que me fez gostar do esporte, e me apresentou inúmeros heróis, dos quais eu nunca imaginaria conhecer fora do basquete.

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