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Automobilismo

Há 30 anos, Ayrton Senna vencia heroicamente em Interlagos

(por Jefferson Castanheira) Ayrton Senna da Silva entrou na Fórmula 1 em 1984 e, desde então, carregava consigo alguns sonhos a serem realizados na categoria. Ganhar uma corrida, é claro, conquistar um campeonato mundial e vencer em território brasileiro eram alguns dos desejos que Senna possuía em seu coração, como um dos pilotos mais dedicados e alucinados pelo sucesso.Pois bem, em 1985, Ayrton Senna conquistava o primeiro objetivo: Vencer na principal categoria do automobilismo mundial, em uma prova debaixo de muita chuva, no circuito português de Estoril, com aquela lendária Lotus John-Player Special preta com o número 12 na frente, e seu capacete amarelo tradicional. Naquela ocasião, Senna colocou uma volta em quase todos, menos no segundo colocado, Michele Alboreto, e ainda liderou todas as voltas do Grand Prix após ainda ter a pole-position com 1.21.007, quase meio segundo mais rápido que seu futuro arquirrival, Alain Prost, com 1.21.420. A Fórmula 1 já havia conhecido o talento de Senna em condições climáticas chuvosas, afinal, ainda em 1984, guiando a Toleman, Ayrton Senna deixou seu cartão de visitas chegando em segundo no GP de Mônaco, deixando para trás lendas como Niki Lauda e Nigel Mansell. Mas, com a vitória em Estoril sendo a sua primeira e debaixo de chuva torrencial, Senna colocou um ponto de exclamação em sua diferença para o restante do grid quando o asfalto estava molhado.Em 1988, o seu segundo objetivo se concretizou. No Japão, também com chuva no meio da prova, Ayrton Senna sagrou-se campeão mundial de Fórmula 1 pela primeira vez, deixando para trás 15 carros após sua McLaren morrer na largada e cair para a 16ª colocação. Ultrapassando todos e, por último, o seu rival Alain Prost, o brasileiro colocava seu nome eternamente guardado na história da Fórmula 1 e do automobilismo mundial. Mas, o último objetivo e sonho de Ayrton Senna veio apenas em 1991, depois de tanto bater na trave em busca de uma vitória no Brasil. Em 84, problemas no turbo. Em 85, pane elétrica. Em 86, o mais próximo que chegara, um 2º lugar histórico com uma dobradinha brasileira em Jacarepaguá, com Nelson Piquet vencendo a corrida. Em 87, o motor Honda fundiu. Em 88, foi desclassificado após sua McLaren MP4/4 ter problemas de câmbio ainda antes da largada. Em 89, se envolveu em um acidente com Berger e Patrese, tendo que ir aos boxes trocar de asa dianteira e somente chegar em 11º. Em 1990, Senna liderava a prova com facilidade e tinha a corrida nas mãos na estreia do GP Brasil de F1 em Interlagos, no seu novo formato. Mas, ao tentar ultrapassar o retardatário Satoru Nakagima, Senna errou e acertou o piloto japonês e seu companheiro de equipe na Lotus Honda de 87, tendo que fazer um pit-stop a mais para substituir o bico do carro, terminando em terceiro. Detalhe: Senna fez a pole em 1986, 1988, 1989 e 1990. Enfim, chegamos a 1991. 24 de Março daquele ano, dia nublado com muitas nuvens carregadas sob a represa Billings, sinal de chuva. A pole era de Ayrton Senna mais uma vez, que marcou 1.16.392, contra 1.16.775 do segundo colocado, o italiano Ricardo Patrese, com sua Williams FW11. Na largada, Mansell ultrapassou Patrese e iniciou uma perseguição contra o líder brasileiro, ambos ditando o ritmo da prova e abrindo mais e mais dos que estavam atrás. Na volta 61, com 10 restando, Mansell roda e abandona a prova, deixando Ayrton Senna com 40 segundos de diferença de Patrese, que herdara a segunda posição de seu companheiro de equipe. Com a chuva apertando nesse momento, a McLaren MP4/6 passou a falhar em sua relação de caixa de câmbio. Primeiro, Ayrton perdeu a quarta marcha, depois a terceira parou de entrar, a quinta passou a dar ponto morto e no fim de tudo, Senna tinha apenas a 1ª e a 6ª marchas quando faltavam 5 voltas para o fim. A diferença que caía de Senna para Patrese era notável, mas a McLaren em nenhum momento sinalizou problemas no carro de Ayrton, fazendo com que a Williams pensasse que o brasileiro estava administrando a diferença até o fim e não queria correr riscos debaixo da chuva em Interlagos – mal eles sabiam que Senna segurava a alavanca do cambio semi-automático com a mão direita a grande maioria do tempo e com a esquerda, efetuava as manobras com muito esforço principalmente no setor 3 da pista, onde as curvas são mais acentuadas, lentas e anguladas. O blefe de Jo Ramirez e Ron Dennis funcionou até certo ponto, quando as Williams comunicaram a Patrese que Senna estava lento e tinha problemas, mandando o italiano pisar forte para tentar alcançá-lo. Era tarde demais, relata Patrese: “Na volta 65, Senna fez 1m28s3, e eu virei 1m21s9, ficando claro para mim que eu poderia vencer. Fui muito mais rápido que Senna, mas ainda dentro do carro eu pensei que precisaria ter descoberto que Senna tinha problemas umas duas voltas antes”, afirmou o italiano. O blefe funcionara, mas a chuva também caia um pouco mais forte em alguns pontos da pista, fazendo com que Senna quase passasse reto na subida dos boxes e perdesse a prova na volta 70. Mas, essa mesma chuva fez com que Senna conseguisse uma diferença pontual para Ricardo Patrese, pois o brasileiro fez um absurdo mediante as condições do carro: 1m25s1, enquanto Patrese rodasse apenas quatro décimos mais rápido que Ayrton, com 1m24s7. Senna completa a volta 70 com Mihaly Hidasy, diretor de prova na época, sinalizando o número “1” com o dedo indicador apontado pro alto. Bandeira branca, última volta. Senna faz o S que leva seu nome brigando com o volante. Freia no cotovelo do S e puxa alta rotação no ponto morto e leva a marcha para a sexta novamente, forçando o carro e pisando bem fundo na curva do sol. Reta oposta, Senna avisa, aponta, acena. Chega na descida do lago com o pé alto no acelerador e dando toques fortes no freio, como aponta a telemetria, para fazer a descida do lago. Sai da curva em alta para entrar na Ferradura com o braço cansado, lutando contra o volante, termina laranjinha quase beijando a zebra. Contorna a pinheirinho quase fora do traçado, buscando velocidade de saída de curva para entrar na temida bico de pato, curva que se faz com a primeira marcha e o carro abaixo dos 100 kmh. Pisa forte pra entrar no mergulho, deixando o carro no ponto morto diversas vezes para subir a rotação e dar potencia por motor Honda. Faz a junção com cuidado, é a última curva de baixa, acelera forte, tira a mão da alavanca do câmbio, pisa forte, faz a subida dos boxes com o pé alto no acelerador e vai até o fim da reta pela última vez, cruzando a linha de chegada aos berros, aos prantos e com alívio. Finalmente, Senna nos braços do povo vencendo em sua casa. Triunfando onde nasceu e cresceu. Faz o S do Senna na volta de desaceleração gritando que não acredita, caindo a ficha de que ele venceu. O carro morre de frente ao setor G, faz um sinal de que o carro não anda mais e desmaia dentro do cockpit, amparado pelo time médico comandado pelo eterno amigo Sid Watkins.Senna sai do carro, os fiscais se abraçam. É colocado em um FIAT Tempra que era o Safety Car naquela prova. É guiado aos boxes e é levado à glória. Há 30 anos, o Brasil tinha um motivo enorme para sorrir. E que a gente sorria hoje lembrando disso mais uma vez.

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