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MLB

Entrevista com Christian Pedrol, revelação do beisebol brasileiro com passagem pelos Mariners

(por Leonardo Costa)  Atibaia é uma cidade do estado de São Paulo conhecida por ser um refúgio em meio a natureza, a somente 66 Km de distância da capital. A terra da Festa das Flores e do Morango, do Morro da Pedra Grande e do Parque Edmundo Zanoni, é um dos principais celeiros do beisebol brasileiro. É de Atibaia que surgiu, por exemplo, Andre Rienzo, primeiro pitcher brasileiro a jogar uma partida na MLB; de lá também saiu Jean Tomé, arremessador que teve passagem pelas ligas menores do Seattle Mariners e, assim como Rienzo, também jogador da seleção brasileira. Mas, o nome da cidade que surge como mais força recentemente é o de Christian Pedrol, atual atleta do Legionare, tradicional equipe de beisebol da Alemanha. E foi lá do país europeu que ele topou bater um papo e contar um pouco de sua trajetória. “Já entendo praticamente tudo em alemão, mas ainda não consigo falar. Só que no clube o idioma usado é o inglês, então pra mim fica mais tranquilo”, disse Pedrol ao ser questionado como se virava com o idioma germânico.  Apesar da pouca idade, 20 anos recém completados, Pedrol tem uma trajetória intensa no esporte. Passagens por República Dominicana, ligas menores nos Estados Unidos, além de Seleção Brasileira e agora beisebol alemão. “Comecei por influência do meu irmão, que foi chamado por um amigo para ir em um treino de beisebol e eu fui junto”, explica o atleta sobre seu início no esporte. “Eu gostava de jogar futebol, era goleiro, mas a cada vez que jogava beisebol eu ia gostando mais, até que decidi levar mais a sério”. Seus primeiros treinamentos foram com 7 anos de idade, e aquilo que era recreativo começou a se tornar mais profissional em 2015, então com 15 anos: “Conversei com o Tomé se ele poderia ajudar no meu desenvolvimento, já que eu queria ser pitcher e ele já atuava na posição”, refere-se Pedrol ao já citado jogador Jean Tomé. “Com a ajuda dele fui melhorando a ponto de ser chamado para seleção brasileira sub-16”. Um dos sentimentos mais citados pelo atleta em nossa conversa foi a palavra gratidão. Se Tomé o ajudou dentro de campo, passando todo seu conhecimento, fora dele Pedrol recebeu inúmeras ajudas, sendo a do fisioterapeuta Sergio Nery umas das mais importantes: “Com o Tomé eu fazia todo o trabalho técnico, de melhorar a mecânica de arremesso, por exemplo. E com o Nery eu tinha o respaldo de ter um espaço moderno de fisioterapia ao meu alcance que me ajudou ainda mais na minha evolução”, conta Pedrol. E com toda a dedicação foi conseguindo espaço. Após boas atuações em torneio no Panamá pela seleção sub-16, o jogador deu um dos passos mais importantes da carreira, sendo chamado para integrar a Academia de Beisebol em Ibiúna. Segundo informações da própria Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol, o Centro de Treinamentos de Ibiúna é local onde são treinados os melhores atletas do Brasil entre 13 e 18 anos, buscando o alto rendimento. “O Thiago Caldeira, um dos treinadores da Academia foi quem me fez o convite pra treinar em Ibiúna, então em 2015 eu me mudei para o CT”, explica o jogador como sua carreira começou a decolar. Pedrol seguiu evoluindo e chamou a atenção da equipe do Seattle Mariners da MLB, e em 2016 recebeu a proposta de assinar por sete anos com a franquia: “aceitei na hora, foi até meio sem pensar, falei sim de primeira”. Era a materialização de um sonho do jogador. Pedrol começaria sua trajetória rumo às Grandes Ligas desembarcando na República Dominicana. O país do Caribe é sede de inúmeras equipes afiliadas das franquias da MLB, e Seattle também tinha a sua. “Quando cheguei na Dominicana em 2017 minha liberação por parte da MLB atrasou minha estreia por três meses, e consegui jogar apenas 4 partidas”, explica o jogador como foi o início de sua jornada estrangeira. Mesmo com poucas atuações ele ganhou confiança da direção e, para temporada seguinte, foi nomeado ‘Ace’ da equipe, aquele que é considerado o principal arremessador do time, inclusive sendo o responsável por lançar no jogo de abertura da temporada. “Eu já tinha causado uma boa impressão mesmo com poucos jogos, tanto que já havia a possibilidade de Seattle me chamar para alguma liga menor nos EUA ainda nesse mesmo ano. Então me lesionei. Pensei que minha ida para os EUA ia ter que esperar “, conta Pedrol após sofrer uma tendinite no tríceps.  Se a lesão encurtou sua passagem pela República Dominicana, surpreendentemente o fez chegar em solo americano ainda mais rápido. “Eu fiquei um tempo afastado tratando da lesão, e quando voltei a jogar senti outra vez. Então os Mariners me chamaram para os EUA onde eles dispunham de uma equipe mais qualificada para fazer meu tratamento”. E foi assim, por vias não tão convencionais, que o atleta subiu seu primeiro degrau em direção a MLB. Em 2019 estava recuperado da lesão, treinando para estrear pela liga Rookie, uma das inúmeras ligas menores da MLB, até que de surpresa foi chamado para compôr o elenco do Tacoma Rainiers, equipe da Triple A de Seattle. “A Triple A é a última parada pra quem quer chegar até a MLB, e quando eu vi tava lá arremessando uma partida em que tinha como colegas alguns jogadores da equipe principal dos Mariners, como o Seager”, trata-se do 3B Kyle Seager, que contém em seu currículo participação em All-Star Game. A partida não foi das melhores para Pedrol, que sabia que estava ali porque haviam muitos pitchers lesionados e que ainda tinha um longo caminho pela frente. “O pessoal da equipe, inclusive o técnico, me apoiou muito após minha atuação abaixo do esperado. Falaram que eu tinha cometido alguns erros naturais de alguém tão jovem, mas que tava no caminho certo”, conta Pedrol após uma partida em que concedeu 3 HR’s. Após duas semanas de muita experiência pela Triple A, Pedrol voltou aos treinamentos e seguiu evoluindo. Jogando pela Rookie viveu bons momentos, sobretudo na parte final da temporada, quando seu ERA, estatística que mede a eficiência de um arremessador, chegou a estar abaixo de 2.00. “Meu final de temporada tava sendo excelente, e quando eu já tava de malas prontas para ir de férias para o Brasil, meu técnico me chama dizendo que precisavam de mim para arremessar pela equipe do West Virgínia, da classe A”. Outra vez ele foi chamado de forma inesperada e subiu vários níveis para arremessar. A chuva adiou sua estreia na nova categoria, mas quando estreou,o brasileiro mostrou para o que veio: “Foi uma das minhas melhores partidas da minha carreira. Arremessei por seis entradas e eliminei nove rebatedores”, conta um entusiasmado Pedrol. Finalmente de férias no Brasil e feliz após uma temporada de afirmação, Pedrol recebeu outra vez uma notícia inesperada. Era seu diretor da época em que atuava pela República Dominicana ligando para dizer que os Mariners haviam dispensado o jogador de seu contrato de sete anos.”Perguntei se ele sabia o motivo, mas me disse que não. Eu gostaria de saber para que eu pudesse melhorar, evoluir, mas infelizmente não sei porque fui dispensado”, diz o jogador. Entretanto, poucos dias após ser deixado livre por Seattle, ele recebeu uma proposta do Legionare, sua atual equipe: “O Ted, scout responsável pela minha ida para os Mariners, conversou com a direção da equipe alemã e soube que eles queriam um pitcher, então passou informações sobre mim. O técnico do Legionare me ligou e logo depois assinei contrato com eles”. A essa altura da carreira Pedrol já era fluente em espanhol, devido sua passagem pela República Dominicana, além do inglês, idioma no qual ele percebeu a importância de aprender ainda em terras caribenhas: “eu sabia que se quisesse evoluir como jogador também precisava dominar o inglês. Facilitou minha adaptação nos EUA e me ajudou nas conversas com o pessoal daqui do Legionare, já que a comissão técnica quase inteira é de fora da Alemanha”. Na Alemanha ainda não atuou devido a Pandemia, mas já tem metas bem definidas: “espero chegar no final da temporada e ser o melhor jogador da liga alemã”, afirmou Pedrol. O Legionare é uma equipe com extensa história no beisebol alemão, inclusive sendo um dos centros de referências do esporte no país. Porém, a equipe vive uma seca de alguns anos sem títulos após conquistas no começo da década passada, e aposta no brasileiro para ajudar a trazer o troféu de volta para Regensburg, cidade da região da Baviera. Quando perguntado suas perspectivas com relação a uma possível volta a MLB, Pedrol disse que gostaria de atuar novamente na liga, mas foi categórico ao afirmar que está totalmente focado em trazer resultados para sua nova equipe. “Não posso pensar em MLB sem antes apresentar bons resultados pelo Legionare. É um passo de cada vez, e no momento estou trabalhando forte para ajudar minha equipe”, afirma o jogador. Além de Rienzo, cria de Atibaia, Pedrol diz ter na lenda da MLB, Greg Maddux, uma de suas principais inspirações, sobretudo após seu técnico na República Dominicana dizer que seu estilo se assemelha ao ex-jogador que se tornou o primeiro pitcher a receber três Cy Youngs de forma consecutiva, além de ganhar uma World Series pelos Braves em 1995. Por fim, o jogador voltou a citar a importância de todos aqueles que o ajudaram em sua trajetória no beisebol: “Foram muitas as pessoas que me ajudaram e ainda seguem me ajudando. Minha família que sempre apostou em mim, meus agentes da Five Company, o Tomé, o Rienzo, o Nery, pessoal do Atibaia, o Caldeira, o Felipe Burin, direção das equipes afiliadas do Seattle por onde passei, e muitos outros”. Com uma carreira cheia de histórias, Pedrol mostra uma maturidade além de sua idade, sabendo da importância de seguir sempre evoluindo e dos desafios que o esperam pela frente, tanto no esporte, quanto na vida.

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