(por Edmar Jardim) Maio. A ressaca da eliminação (tenha sido ela traumática ou não) já passou. A da vitória (tenha sido esse o seu caso) também. Draft. Seu time escolhe aquele cara que você acha que vai ser a salvação da lavoura (ou não). Empolgou! Esperanças renovadas. Já é quase mini-camp, hora de bombar o twitter e o instagram de piadas sobre futebol americano, cornetar na página @seutime_brasil, e já já chega agosto com a pré-temporada.Que você nunca viu, mas lesionou uma galera! E, de repente… é Setembro! Você faz aquele post bacana em caixa alta para os seus amigos que só assistem Campeonato Espanhol e Liga Inglesa saberem: A NFL VOLTOU!Esse é mais ou menos o roteiro normal de um ciclo eterno para o fã da bola oval, que esse ano fez questão de assistir ao primeiro Draft “online” da história da Liga não apenas pra descobrir a presepada do seu GM, a escolha do seu time, ou dar risada com as “burradas” alheias como de costume: assistiu porque o Draft pode ter sido o mais próximo resquício de esporte ao vivo que teremos pelos próximos meses.A pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus em circulação no planeta, tem deixado a vida de todos de cabeça para o ar ao redor do globo, e no mundo dos esportes não foi diferente: todas as grandes competições esportivas do planeta Terra estão paralisadas.“Mas, a NFL volta apenas em Setembro, e até lá vai estar tudo minimamente sob controle para que a gente possa dar um pontapé nesse vírus juntamente com o kickoff da temporada”. É dessa forma que pensa o fã mais otimista. É desse jeito que pensa inclusive a própria Liga, que vem mantendo o calendário e ajustando as atividades e datas da forma que pode, a fim de tentar segurar a data do início da Temporada 2020.O fato é que levando em conta as incertezas e os ainda inúmeros paradoxos e desafios da ciência e da medicina ao redor do mundo no combate à pandemia, é preciso considerar que Setembro dessa vez pode não chegar para o fã do esporte da bola oval.Pode atrasar. Pode adiar por um tempo. Pode ser “mais curto” que o normal. Pode esticar. Mas, pode não chegar.E é com essa visão mais realista da atual situação dos Estados Unidos com relação à doença que precisamos lidar. Aqui cabe um parêntese, para lembrar que no mar de tristezas e incertezas esportivas, a NFL e o futebol americano como um todo, incluindo o College, foram “beneficiados” com o calendário da Temporada 2020 do coronavírus. Explico.Enquanto competições com contratos milionários em publicidade e transmissões como a Champions League, Campeonato Inglês, Campeonato Espanhol, Libertadores da América, NBA, NHL, ATP Tour, Fórmula 1, dentre outros, precisaram ser paralisados em andamento (trazendo incalculáveis prejuízos desportivos e financeiros, bem como a dúvida do que fazer ou como terminar os torneios), o futebol americano viu sua temporada terminar com o Super Bowl LIV poucos dias antes do vírus tomar conta dos noticiários e chegar com força total ao continente americano. Todas as partidas foram jogadas, e a pandemia ocorre justamente no interstício entre uma temporada e outra, sem ainda afetar de maneira direta o calendário da temporada a se iniciar. Caso suis generis no esporte mundial com relação ao vírus até aqui, lembrando que por conta da crise de sáude, pela primeira vez na história os Jogos Olímpicos da era moderna foram adiados.É preciso que o fã saiba que nas próximas semanas, a qualquer momento, medidas podem ser tomadas de acordo com o andamento da pandemia e das ações efetivas do governo norte-americano no que tange ao vírus e sua escalada. Até que se tenha plena certeza de que tudo está bem, e que a temporada está mantida, será preciso viver com a dúvida.Dúvida de que aquela cerveja gelada na tarde de domingo vendo pré-jogo e aguardando a partida vai realmente rolar. Dúvida se aquela reunião de quinta à noite pra ver seu time (ou o rival) com os amigos no bar mais próximo vai acontecer. Dúvida se você vai comer aquela pizza quentinha (pra rebater a cerveja dos 2 jogos anteriores) assistindo ao Sunday Night. Dúvida se você vai passar raiva com aquela escolha lá de abril no draft, que você achava que ia vingar, mas que te faz passar tanta raiva quanto seu coordenador ofensivo chamando jogadas. Dúvida se chegar em casa quase 22h do trabalho na segunda vai ser bem menos pesado ao ligar a TV e escutar o tema do Monday Night (mandando a eventual sobra da pizza do dia anterior, claro).O fato é que a tristeza com a ausência dos esportes em função da pandemia pode fazer na NFL mais uma dolorida morada, calando mais fãs ao redor do mundo e corroborando pra mais um capítulo obscuro dessa que é a mais sombria e desafiadora passagem contemporânea da humanidade.
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