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The Cleveland Summit: Quando Bill Russell e Kareem Abdul-Jabbar uniram-se a atletas da NFL no apoio a Muhammad Ali

(por Matheus Correia) Foi no dia 4 de junho de 1967 que a cidade de Cleveland presenciou um importante, mas esquecido evento que representou uma grande conquista para os atletas americanos. Lendas do esporte se reuniram nos escritórios do Black Economic Union para uma espécie de “negociação”.O evento que antecede este encontro é uma polêmica histórica protagonizada por um dos maiores pugilistas e atletas da história: Muhammad Ali. Em abril de 67, Ali recusou o alistamento e o serviço militar ao Exército Americano para combater na Guerra do Vietnã, devido à sua crença religiosa, sendo parte do grupo político e religioso Nation of Islam. A decisão gerou um imenso ódio e discriminação sobre o atleta por boa parte da população americana, que era majoritariamente cristã. A decisão do atleta custou seu título Mundial dos Pesos-Pesados, além de ser sentenciado a 5 anos de prisão, uma multa de 10 mil dólares e um banimento por três anos do boxe profissional. Cerca de dois meses depois, ocorreu a famosa reunião: “The Cleveland Summit”. Diversos atletas negros, entre eles os lendários Jim Brown, Bill Russell e Kareem Abdul-Jabbar (Ainda Lew Alcindor na época) se reuniram para dar apoio a Ali.  Mas a história não foi tão simples assim. O encontro foi inicialmente organizado por Jim Brown, mas com um grande interesse por trás do promotor de boxe Bob Arum e outros membros do Nation of Islam. Um dos advogados de Arum havia conseguido negociar a situação de Ali com o governo, com uma condição “simples”: Ali teria que participar de lutas de exibição para as tropas do exército americano. Assim, todas as acusações sobre o lutador seriam retiradas. Basicamente, a ideia da reunião era mudar a decisão de Muhammad Ali. Arum dirigia uma empresa chamada Main Bout, que controlava os direitos de televisão em circuito fechado das lutas de Ali. O acordo com o governo renderia muito dinheiro para Arum, e o mesmo havia oferecido franquias locais de circuito fechado e parte do lucro das lutas de Ali para Jim Brown e os atletas que participaram do encontro, caso conseguissem convencer o lutador. Outros nomes presentes na reunião eram também Sid Williams, John Wooten e Walter Beach do Cleveland Browns, Curtis McClinton do Kansas City Chiefs, Bobby Mitchell e Jim Shorter dos Washington Redskins e Willie Davis do Green Bay Packers. Carl Stokes também esteve presente, um advogado de Cleveland que viria a ser eleito o primeiro prefeito negro de uma cidade grande americana, em novembro daquele ano. Muitos dos atletas tentaram convencer Ali com o argumento de que aquilo era “antipatriótico”. Porém, o lutador nunca cedeu. O encontro se estendeu por horas, até que Jim Brown organizou uma coletiva de imprensa. Enquanto todos os jornalistas esperavam um grande anúncio, Ali se pronunciou dizendo que “Não havia nada de novo a ser dito”. Duas semanas depois, o boxeador foi declarado culpado por evasão preliminar. Ele não chegou a ser preso, mas ficou longe dos ringues por três anos. Em Junho de 1971, a condenação foi anulada por decisão unânime da Suprema Corte dos Estados Unidos. Muitos estavam presentes naquela reunião apenas por interesses econômicos. Mas quando perceberam que não podiam fazer nada para mudar a decisão do lutador, e que não iriam tirar dinheiro nenhum daquilo, deram total suporte e apoio à Ali. Naquela época, ficar ao lado de Muhammad significava sacrificar sua popularidade, em uma década onde o racismo esteve presente de forma esmagadora na sociedade americana. Mas, os atletas se posicionaram contra o governo e a favor da liberdade religiosa. “Não nos preocupamos com nenhuma possível ameaça”, disse John Wooten, Guard do Cleveland Browns que estava presente na reunião. “Não estávamos preocupados porque não estávamos errados. Estávamos unidos. Todos tínhamos um relacionamento verdadeiro e sabíamos que estávamos fazendo algo para o bem de todos”. “Eu invejo Muhammad Ali. Ele tem algo que nunca fui capaz de alcançar e algo que poucas pessoas possuem. Ele tem fé absoluta e sincera. Não estou preocupado com Muhammad Ali. Ele está preparado melhor do que qualquer um que eu conheça para suportar as provações reservadas a ele. O que me preocupa é o resto de nós.” Disse Bill Russell, pouco tempo depois em entrevista à Sports Illustrated. Um ato de solidariedade que ficará para sempre marcado na história dos esportes americanos e na luta contra o racismo e intolerância religiosa. E claro, um enorme passo na batalha pela conquista dos diretos dos atletas nos Estados Unidos. Porém, ainda assim, um evento pouco lembrado.

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