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Bernard King – O Rei de Nova Iorque

(por Vinícius Freitas)Possuindo literalmente a palavra ‘Rei’ em seu sobrenome, o ala Bernard King teve momentos em sua carreira que fazem jus à alcunha recebida em seu período como jogador do New York Knicks, com alguns feitos históricos e atuações dignas de integrantes da realeza do basquetebol.Bernard King nasceu em 04 de dezembro de 1956, no Brooklyn, em Nova Iorque, e desde cedo praticava esportes, inclusive junto de seu irmão, Albert King, que também atuou na NBA. Começou sua jornada no esporte na escola de Fort Hamilton, em sua cidade natal, e pouco depois fez parte do time da Universidade do Tennessee. King foi um sucesso em seus três anos jogando pelo time universitário, conquistando três vezes o título de melhor jogador da temporada e encerrando sua passagem pela equipe com incríveis médias de 25.8 pontos e 13.2 rebotes, além de 59% de acerto nos arremessos de quadra, mostrando o quão eficiente o jovem atleta era nos quesitos ofensivos. Em 1977, se tornou elegível para o draft, onde já tinha uma certa fama por conta de seu poder explosivo em jogadas de infiltração e sua eficiência na conclusão de jogadas.Foi selecionado na sétima posição pelo New Jersey Nets, acima de outros nomes importantes da liga no futuro, como os campeões Norm Nixon (com o Lakers em 79/80 e 81/82) e Jack Sikma (com o SuperSonics em 78/79). Os Nets eram uma das franquias mais novas da liga, pois integravam a ABA (American Basketball Association) e estrearam na NBA em 76/77, depois da fusão das duas ligas. A equipe foi uma das piores em seu ano de debut, e provavelmente o destino não foi o melhor para explorar o potencial de King, apesar de sua ótima passagem pela equipe.New Jersey Nets (77/78 a 78/79)O ala teve um início promissor nos Nets, treinado por Kevin Loughery (havia sido bicampeão com a equipe na extinta ABA), fazendo grande dupla com John Williamson, além de contar com o ótimo armador Kevin Porter. O novo camisa #22 da equipe terminou sua temporada de estreia com 24.2 pontos, 9.5 rebotes e 1.5 roubo de bola, com destaque para as jogadas de explosão para invadir o garrafão, além dos arremessos feitos de vários ângulos, mostrando grande potencial e mantendo uma boa eficiência ofensiva, com direito a dois jogos com mais de 40 pontos e vinte jogos anotando pelo menos 30 pontos. Apesar de seus bons desempenhos, sua equipe não se classificou para os jogos de pós-temporada em 77/78. Na temporada seguinte sua pontuação diminuiu, mas seu aproveitamento ofensivo melhorou, com o jovem jogador atingindo 21.6 pontos, 8.2 rebotes, 1.4 roubo de bola e 52% de acerto nos arremessos em quadra. Apesar da campanha negativa de 37 vitórias e 45 derrotas, os Nets foram para os playoffs, onde enfrentaram a forte equipe do Philadelphia 76ers de Julius Erving, ex-ídolo dos Nets. King teve ótima atuação, com 26 pontos de media na série, atrás apenas de seu companheiro de equipe, John Williamson, com 29.5, mas os Nets foram eliminados por 2-0, devido à ótima atuação coletiva do adversário. Em seu segundo ano como profissional King teve alguns problemas externos que acabaram afetando seu relacionamento com a equipe, por conta de seu envolvimento com bebidas alcóolicas, além de algumas outras ocasiões em que foi detido por posse de maconha e cocaína, e mesmo tendo um ótimo desempenho, a direção da franquia não achou vantajoso manter o atleta no time, realizando uma troca com o Utah Jazz, onde enviaria Bernard King, John Gianelli e Jim Boylan e receberia Rich Kelley.Utah Jazz (79/80)Apesar da mudança inesperada, King vinha para uma franquia com um elenco melhor, contando com o experiente armador Pete Maravich, e o ótimo pontuador Adrian Dantley. O recém-chegado jogador alegava não ter se adaptado ao clima da cidade, e posteriormente voltou a ter problemas com álcool, comprometendo mais uma vez sua relação com o time em que atuava, inclusive com o também recém-chegado Tom Nissalke, treinador da equipe, que coincidentemente havia treinado a antiga franquia de Utah na ABA em seus primeiros anos, o Utah Stars. Em Janeiro de 1980 foi suspenso pela NBA devido a uma acusação de agressão sexual, terminando a temporada com apenas 9.3 pontos de média em míseros 19 jogos disputados, pois o jogador havia atuado nas 82 partidas da temporada anterior. Foi trocado na temporada seguinte para o Golden State Warriors, pelo pivô Wayne Cooper e mais uma escolha de segunda rodada do draft.Golden State Warriors (80/81 a 81/82)Desacreditado por muitos críticos e torcedores, decidiu passar um tempo em um centro de reabilitação para alcoólatras antes do início da temporada, o que o ajudou muito, pois voltou a ter as boas atuações, fazendo grande dupla com o armador World B. Free no período em que atuou pelo time californiano. Mudou o número de sua camisa para #30, e em sua primeira temporada na equipe teve médias de 21.9 pontos, 6.8 rebotes e 58% de aproveitamento nos arremessos, anotando 50 pontos em uma partida contra o Philadelphia 76ers e 42 pontos em outro jogo contra o San Antonio Spurs, além de mais 14 jogos com pelo menos 30 pontos marcados. Os Warriors tinham conquistado apenas 24 vitórias antes da chegada de King e, mesmo melhorando ofensivamente e atingindo 39 vitórias, não conseguiram se classificar para a pós-temporada. No ano seguinte King manteve os bons números, com 23.2 pontos, 5.9 rebotes por jogo e com 56% de eficiência na conclusão das jogadas, aproveitamento altíssimo para um jogador de sua posição. Anotou pelo menos 40 pontos em dois jogos e teve mais 14 jogos na faixa dos 30 pontos, números bem parecidos com o de sua primeira temporada na franquia. Foi selecionado para o All-Star Game e integrou o segundo time All-NBA daquele ano. Apesar da boa campanha do time, com 45 vitórias e 37 derrotas, King não atuou em nenhum jogo de playoffs pelos Warriors, pois a equipe perdeu a vaga no último jogo da temporada contra o Seattle Supersonics, na derrota por 95-94 jogando em casa. Sem um grande motivo aparente, King foi trocado para o New York Knicks por Micheal Ray Richardson (atuou em apenas 33 jogos pelos Warriors), um armador com grande visão de jogo e muito bom defensivamente (líder de assistências e roubos de bola na temporada 79/80), porém, tão problemático fora de quadra quanto Bernard King já havia sido.New York Knicks (82/83 a 86/87)Chegou à cidade na temporada 82/83 junto com o experiente técnico Hubie Brown (campeão da ABA em 74/75 com o Kentucky Colonels, e ex-técnico do Atlanta Hawks), sendo o principal nome da equipe, que tinha o excelente armador Paul Westphal (já em final de carreira) e o jovem pivô Bill Cartwright, mas em geral era uma equipe bem limitada. Apesar de ser um dos piores ataques do momento, os Knicks compensaram isso terminando como a melhor defesa da temporada regular, alcançando 44 vitórias e 38 derrotas. King foi o cestinha da equipe com 21.9 pontos de média e 52% de eficiência nos arremessos, anotando 43 e 40 pontos em dois duelos contra o Detroit Pistons. Nos playoffs, os Knicks iriam enfrentar o New Jersey Nets, ex-equipe de Bernard e time de Albert King na época, seu irmão, também selecionado no draft pela franquia. King foi monstruoso no primeiro jogo da série, anotando 40 pontos e com 76% (!) de acerto nos arremessos em quadra, praticamente carregando sua franquia nas costas. No segundo jogo, também teve boa contribuição, marcando 18 pontos em mais uma vitória tranquila dos Knicks, que eliminaram os Nets por 2-0. Bernard liderou o confronto com 29 pontos de média e foi o principal nome da franquia, que chegava às semifinais novamente depois de 4 temporadas. Apesar da derrota, Albert King liderou sua equipe em pontuação, com média de 21.0 pontos. Nas semifinais enfrentaram o futuro campeão da temporada, os 76ers de Julius Erving e Moses Malone, sendo derrotados por 4-0. King ainda fez 35 pontos no último jogo, e teve 20.8 pontos de média com 54% nos arremessos, mas os Knicks não tinham elenco suficiente para conseguir enfrentar de igual para igual uma potência da liga como os Sixers.Na temporada 83/84 a equipe ainda era uma das melhores defesas, mas continuava tendo um dos ataques menos efetivos. King melhorou ainda mais seus números, alcançando sua melhor media de pontuação até então, com 26.3 pontos, anotando 50 pontos em dois jogos consecutivos, pelo menos 40 pontos em seis jogos, e 30 pontos em mais 21 jogos. Apesar de sua quantidade de arremessos por jogo ter aumentado, isso não afetou sua eficiência, que foi de 57% na temporada regular. Fez parte do primeiro time All-NBA e também foi escolhido para o All-Star Game daquele ano. Nos playoffs, enfrentariam os Pistons de Isiah Thomas, onde tiveram um confronto bem equilibrado, e o detalhe que definiu a vitória dos Knicks por 3-2 na série foi o desempenho absurdo de King, que nos 5 jogos entre as equipes anotou respectivamente 36, 46, 46, 41 e 44 pontos, com 60% de aproveitamento e 42.6 pontos de média, ganhando o apelido de Rei de Nova Iorque depois de suas esplêndidas atuações na série. Nas semifinais enfrentariam outro time da elite, o Boston Celtics de Larry Bird, Kevin McHale e Robert Parish. Apesar da diferença técnica das equipes, os Knicks foram valentes e venceram seus três jogos em casa, surpreendentemente levando o favorito time dos Celtics para o jogo 7. No jogo que decidiria o futuro das equipes, Boston não vacilou diante de sua torcida e dominou a partida, sendo inclusive a equipe campeã daquela temporada. King manteve a boa eficiência ofensiva (54%) e teve 29 pontos de media, com outras magníficas atuações nos jogos 4, 5 e 6 da série, onde anotou 43, 30 e 44 pontos respectivamente, fazendo um duelo de titãs contra ninguém menos que Larry Bird, que teve 30.4 pontos de média no embate.A temporada 84/85 de King estava sendo fantástica, pois o ala vivia seu melhor momento na carreira, onde anotou 60 pontos no jogo de Natal contra os Nets (recorde da liga até hoje na data), com mais dois jogos na temporada atingindo a casa dos 50 pontos e dez jogos na casa dos 40 pontos, terminando a temporada como cestinha da liga, com 32.9 pontos de média (melhor marca da carreira) e mais uma vez integrando o primeiro time All-NBA e participando do All-Star Game. Mas, o ano que estava sendo perfeito teve um desfecho infeliz, pois em um jogo contra o Kansas City Kings (atual Sacramento Kings), no dia 23 de Março de 1985, King foi disputar um rebote e acabou caindo de mal jeito, rompendo o ligamento cruzado anterior do joelho direito, sofrendo uma lesão que afetou todo o restante de sua carreira, além de interromper uma temporada digna de disputa para MVP. Os Knicks já haviam perdido o pivô Cartwright por lesão no início da temporada, e agora também perdiam seu astro pelo mesmo motivo. O futuro de King era incerto, pois devido à grande gravidade da lesão, o jogador poderia até mesmo encerrar a carreira se não tivesse uma boa recuperação. O atual camisa #30 dos Knicks passou por cirurgia no joelho para reparar a cartilagem e a ruptura dos ligamentos, ficando de fora do restante da temporada 84/85 e perdendo também o ano de 85/86, justo na temporada em que os Knicks selecionaram um de seus maiores ídolos, o pivô Patrick Ewing. Retornou às quadras no dia 04 de Outubro de 1987 apenas, em um jogo contra o Milwaukee Bucks, onde jogou 23 minutos e anotou apenas 7 pontos. Atuaria em apenas 6 jogos na temporada 86/87 e, apesar de ter sofrido uma lesão seríssima, conseguiu voltar relativamente bem, anotando respectivamente 20, 19, 30, 29 e 31 pontos, com média de 35 minutos e 22.7 pontos, ainda se mostrando um pontuador nato apesar de ter perdido a explosão que tinha antes. Foi dispensado pelos Knicks no final da temporada, assinando como agente livre com o Washington Bullets.Washington Bullets (87/88 a 90/91)Reencontrou seu primeiro técnico da liga, Kevin Loughery, que depois de 27 jogos foi substituído por um dos maiores ídolos da franquia, o pivô campeão e MVP das finais em 77/78, e também MVP da temporada 68/69 (um dos únicos novatos a conquistarem o MVP no ano de estreia), Wes Unseld, que atuava pela primeira vez como treinador. A franquia tinha em seu elenco o pivô Moses Malone e o ala-armador Jeff Malone como principais nomes, e apesar de King ter se tornado uma incógnita depois da lesão, teve um bom rendimento em seu primeiro ano na franquia, com 69 partidas disputadas e 17.2 pontos por jogo. Mesmo com a campanha de 38 vitórias e 44 derrotas, a equipe foi para os playoffs e dificultou a vida do Detroit Pistons de Isiah Thomas, Adrian Dantley, Joe Dumars e Dennis Rodman. Os quatro primeiros jogos do confronto foram equilibrados, com as equipes aproveitando o fator casa para conquistar suas vitórias. O jogo de desempate seria em Detroit, e diferente dos duelos anteriores, os Pistons dominaram toda a partida e eliminaram os Bullets. Jeff Malone (25.6pts) foi o cestinha da equipe no confronto, seguido por Moses Malone (18.6pts e 11.2reb). Bernard King (13.8pts em 35 minutos) teve atuação discreta, mas ainda mantinha uma boa eficiência nos arremessos, atingindo 49% na série.Em 88/89 Moses Malone deixou a equipe, que teve um recorde melhor na temporada regular do que no ano anterior, com 40 vitórias e 42 derrotas, mas acabou ficando de fora dos playoffs. King mostrou que apesar da grave lesão que sofreu, estava saudável e apto para suportar uma temporada completa, pois atuou em 81 jogos com médias de 31 minutos em quadra e 20.7 pontos, ficando atrás apenas de Jeff Malone, que terminou a temporada com 21.7 pontos por jogo. Anotou pelo menos 30 pontos em quatorze partidas, além dos 43 pontos contra uma de suas ex-equipes, o New Jersey Nets. No ano seguinte teve uma leve melhora em seu desempenho, anotando pelo menos 30 pontos em dezessete jogos, e fazendo 42 pontos contra outra ex-equipe, dessa vez o New York Knicks. Formou grande dupla com Jeff Malone (24.3pts), mas a equipe era uma das piores defesas da liga e conquistou apenas 31 vitórias na temporada, ficando de fora novamente dos playoffs. King teve médias de 32 minutos e 22.4 pontos em 81 jogos.Em 90/91 (sua última temporada atuando pelos Bullets), Jeff Malone também deixou a equipe, com King se tornando a estrela solitária de uma franquia que não tinha grandes ambições. Apesar de mais uma temporada fora dos playoffs, King teve uma de suas melhores temporadas, anotando pelo menos 50 pontos em dois jogos, pelo menos 40 pontos em nove jogos, e pelo menos 30 pontos em dezoito jogos, terminando a temporada regular com medias de 37 minutos e 28.4 pontos em 64 jogos, sendo selecionado para o All-Star Game e integrando o terceiro time All-NBA. Em setembro de 1991, operou novamente o joelho direito para reparar a cartilagem, e ficou de fora das quadras toda a temporada de 91/92 se recuperando. Foi demitido dos Bullets em Janeiro de 1993 por conta de seu tempo inativo para reabilitação.New Jersey Nets (92/93)Foi contratado em fevereiro de 1993 pela equipe que o revelou. Os Nets contavam com um elenco promissor, liderado por Drazen Petrovic, além do ala-pivô Derrick Coleman e do armador Kenny Anderson. Jogou 32 partidas, com aproximadamente 13 minutos e meio em quadra e 7 pontos de media. Nos playoffs os Nets foram superados pelo Cleveland Cavaliers por 3-2 na primeira rodada, com King jogando 18 minutos no primeiro jogo, e praticamente não atuando mais na série.O ex-ala encerrou sua carreira no término da temporada 92/93, pois sentia dores nos joelhos e também por suas limitações físicas, tanto por conta da idade quanto pela lesão no joelho direito. Se aposentou com médias de 22.5 pontos, 5.8 rebotes, 3.3 assistências e 1 roubo de bola, com destaque maior para sua passagem pelos Knicks, onde atingiu 26.5 pontos por jogo e 54% de aproveitamento nos arremessos. Também teve seu nome adicionado ao Hall da Fama da NBA em 2013, sendo quatro vezes selecionado para o All-Star Game (81/82, 83/84, 84/85 e 90/91), e integrando também o primeiro time All-NBA em 83/84 e 84/85, o segundo time All-NBA em 81/82 e o terceiro time All-NBA em 90/91. É tido como um dos arremessadores mais eficientes (encerrou a carreira com 0.518% de acerto) e difíceis de marcar, e provavelmente atingiria feitos ainda maiores se não fosse a lesão sofrida em seu auge e o envolvimento abusivo com o álcool no começo da carreira. É um dos nomes mais respeitados pelos torcedores dos Knicks, sendo o principal atleta da franquia em seu ressurgimento, e apesar de não ter sido compensado com nenhum título da liga, foi coroado por sua dedicação e atuação dentro de quadra por uma das torcidas mais fanáticas e exigentes, ganhando o inestimável título de “Rei de Nova Iorque”, título que nenhum anel de campeão poderia substituir à altura.

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