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NBA

Autópsia: Miami Heat – De finalista a varrido

(por Jefferson Castanheira) Atendi ao telefone num fim de noite, o escritório estava vazio, alguns analistas ainda executavam seus trabalhos, o zelador passava nas salas e desligava as luzes delas, afinal, o orçamento aqui do Crime Scene Investigation está cada vez mais raso. Conversei com Menendez, um rapaz que trabalha nas rondas aqui da cidade de Miami e ele me disse que existia muita confiança de que a paz reinaria e o sucesso da esperança de um futuro brilhante seria inevitável. Pois bem, o telefonema que eu atendi neste fim de noite próximo ao American Airlines Arena foi de um dos nossos melhores agentes. Ele me disse que encontrou o time da cidade massacrado e sem sinais vitais. Precisei me deslocar e investigar qual é o motivo desta ocorrência e como isso se sucedeu. Tive de esperar alguns minutos a mais no escritório, afinal, meu celular estava com pouca carga e precisava levantar algumas informações que poderiam me levar para a causa-mortis desta tão triste ocorrência. Acendo meu último cigarro, o zelador briga comigo pela proibição de fumar aqui dentro, mas logo ele vê meus olhos vazios, compenetrados na foto do elenco deste mesmo time que fora vitimado naquela noite – logo, me deixou apreciar os últimos tragos da nicotina que me anestesiava a ansiedade de buscar logo os culpados. Cheguei na cena do crime. 16 mil pessoas vão saindo da American Airlines Arena completamente inertes e ébrias perante o destino fatídico. Havia falta de esperança no ar, uma rusga de vento pesado cortava as palmeiras do litoral de Miami, esfriando um suposto calor que a previsão apontava que seria extremamente agradável para os moradores daqui, mas imensamente danosas para qualquer visitante que chegasse. No fim, os ventos congelantes que zeraram o calor, sopravam vindo da direção de Wisconsin e alinhavam com o ônibus que levava o time do estado, o Milwaukee Bucks, de volta para casa completamente aceso e pronto para um enfrentamento maior no futuro. Pensei comigo, será que eles são os principais responsáveis deste crime? A vítima Miami Heat foi somente obliterada de fato ou houve complacência interna? Fui acometido por um sentimento de tristeza, mas ainda mais de decepção, afinal, diziam que que esse time tinha tantos sonhos e um brilhante futuro. O quão cruel foi a realidade para abater tão rapidamente este cenário provavelmente belo? Enfim, muitas perguntas, e eu precisei colher as evidências para alinharmos pelo menos a autópsia e entender a razão deste desencarne. Evidência #1 – Quem dera o Heat tivesse morrido armado. Armação era a última coisa que ele possuía, afinal, contar apenas com Goran Dragic para fazer a bola girar foi uma espécie de tragédia anunciada. Dragic tem idade avançada com limitações físicas provenientes disso. O time já veio com este problema da temporada anterior, até tentou arrumar trazendo Victor Oladipo, mas este também tem graves problemas de saúde e não pôde ajudar em nada neste quesito tão necessário de um time que quer ter vida longa. Olhar para Tyler Herro, Kendrick Nunn, Duncan Robinson e enxergar neles qualidade de armação é falacioso. Estes jogadores possuem características semelhantes com foco em gatilho rápido, mas do que adianta termos atiradores se ninguém os provê armamentos e projéteis para disparar? Foi uma engrenagem faltante.Evidência #2 – O afastamento de Jay Crowder do time foi no mínimo questionável, em vista que o jogador fez um excepcional trabalho defensivo enquanto esteve em Miami e também sacramentou bolas de três pontos importantes quando necessário. Veja, após ele sair do Heat, Crowder vem abalando as estruturas dos adversários e ajudou a vitimar o atual campeão da liga. Ter se desfeito de Crowder foi ultrajante. E repor ele por Trevor Ariza teve gosto amargo de fel. Evidência #3 – O vislumbre da fama, dinheiro e ter tudo ao seu alcance sempre destrói as mentes mais jovens, corrompendo-as. Tyler Herro passou de um jogador questionado em um Draft para atrair atenção da mídia como se ele fosse uma estrela teen. O Justin Bieber de South Beach passou mais tempo nos holofotes e nas redes sociais do que obtendo sucesso na quadra, e isso com certeza atrapalha seu desenvolvimento e o psicológico durante os jogos. A chance dele virar um Michael Beasley 2.0 cresce a cada dia. Evidência #4 – Jimmy Butler é sim um grande jogador, mas dificilmente será líder da equipe. Butler teve desempenho questionável na temporada toda e ainda por cima foi muito mal contra os Bucks, chamando pouca responsabilidade e fugindo as vezes de contato. Seria cansaço? Compreensível com esse calendário suicida. Mas, o alerta tem de estar cada dia mais ligado para cima dele. Não se pode investir todo um teto financeiro em alguém de fato que não vai ser o cara que vai chamar o time para frente. Evidência #5 – Precious Achiuwa está bem longe de ser precioso, e Dewayne Dedmon segue à quilômetros de ser um “Demon”. Nem tudo que reluz é ouro e tampouco um item que possui a alcunha de preciosidade. E Dedmon é um jogador lento, como se fosse um caminhão de quatro eixos subindo uma serra íngreme. Além disso, essa mania de Pat Riley tentar achar talento em jogadores aleatórios passa a ser irritante, pois Gabe Vincent, Omer Yurtseven, Max Strus e Nemanja Bjelica são atletas de teto baixíssimo e que não virarão Dwyane Wade da noite para o dia. Nada é magia, basquete é uma ciência humana e exata ao mesmo tempo.Laudo final: Talvez o único inocente desse caso é Bam Adebayo, não achei digitais de culpa no corpo deste time. Do restante, achei evidências que responsabilizam os jogadores, a comissão técnica e até a diretoria do Heat. O futuro não deve ser queimado como uma chama que consome o mato seco e se esvai rapidamente após um fulminante aquecer. O futuro é para ser uma fissão nuclear, calculada, quente e com explosões controladas. E se teve algo que não vimos foi controle neste time. Apesar de existir o envolvimento máximo do Milwaukee Bucks e também o mérito do adversário neste abatimento severo, a não apresentação de resistência contra o time de Giannis e companhia também tem muito demérito por parte do Miami Heat. Acredito que este caso esteja solucionado e que os motivos e motivações estão bem coesos. Espero que a administração melhore as decisões e tente conter essas mentes jovens desgovernadas. O ar de Miami costuma ser mais quente e agradável com o calor. Não este gelo completamente algoz da natureza da equipe de South Beach.

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