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Aumente o volume! Uma viagem musical pelas ligas americanas – Parte 1

(por Eduardo Schachnik)Esporte e música andam lado a lado há muito tempo. Há indícios de que já se realizavam apresentações musicais durante os primeiros jogos olímpicos na antiguidade. Hoje em dia essa sincronia é explorada com afinco por todo time, federação e liga que se preze, afinal, nada mais legal do que unir duas das principais fontes de entretenimento existentes no mundo.Entretenimento é a palavra-chave para as ligas americanas, portanto, não poderiam ficar de fora dessa simbiose. De clássicos tocados em órgãos ao dubstep, os espectadores de um evento esportivo estão constantemente interagindo com músicas e cantos. Vamos conhecer agora aquelas canções que guardam uma relação especial com os esportes americanos.As clássicasQuando se trata de clássicos, a MLB é um prato cheio. O próprio ritmo do jogo desde sempre demandou uma atração extra, pois as pausas são constantes: troca de rebatedor, de arremessador, intervalo entre entradas, etc. A solução encontrada para manter o público animado (ou às vezes acordado) foi adotar música nos estádios.A canção número 1 do beisebol é de longe “Take me out to the ball game”. Ela não só é a música mais famosa do baseball, como é a terceira música “mais reconhecível” pelos americanos, atrás apenas de “happy birhtday” e do hino nacional. Criada em 1908, por Albert von Tilzer e Jack Norworth, que até então nunca haviam frequentado um jogo oficial, a música é o verdadeiro hino do esporte, tocada em praticamente todos os estádios no intervalo da 7ª entrada.O que pouca gente sabe, já que o refrão se limita a falar das guloseimas e incentivar o time da casa, é que a composição conta a história de uma menina (Katie Casey) a dizer para seu pretendente que prefere ir ao jogo de beisebol do que assistir a um show (as fãs do esporte se identificam). A letra, considerada por muitas pessoas um marco do movimento feminista, foi inspirada na namorada de Jack Norworth, Trixie Friganza, uma atriz progressista e sufragista.A canção tem tanta importância para o passatempo preferido dos americanos, que seu manuscrito original, o papel no qual Norworth escreveu a letra em 15 minutos enquanto pegava um metrô em NY, está imortalizado ao lado das grandes lendas do esporte no Hall da Fama.Após os atentados de 11 de Setembro de 2001, o protagonismo de “Take me out to the ball game” foi ameaçado por outra canção clássica: “God bless America”. A liga instituiu naquele ano, após iniciativa do San Diego Padres, que a música fosse tocada em todos os campos na 7ª entrada, posteriormente flexibilizando a regra para que cada time decidisse pela execução ou não, sendo que a maioria deu continuidade à tradição.Hoje ela é respeitada como um hino pela maioria (a introdução pede que o público se levante e remova o chapéu). Embora apenas o New York Yankees reproduza-a em todos os jogos, sempre são realizadas performances ao redor da liga em partidas especiais, como início da temporada, aos domingos e feriados e especialmente durante os playoffs.Essa música, composta em 1918 por Irving Berlin guarda semelhanças com a primeira, não só pela facilidade com que se difundiu no esporte, como pela história que vai muito além da letra. Berlin, um imigrante judeu, escreveu-a enquanto servia a marinha americana, mas só decidiu impulsionar seu trabalho em 1938, com a ascensão de Hitler, momento em que desejou que a música se tornasse um hino de paz. A fama veio na voz de Katie Smith, o que mais tarde geraria muita controvérsia.Passado o luto de 11 de Setembro, surgiram muitas insatisfações com a reprodução insistente da música. Ateus e progressistas passaram a sentir-se incomodados com o tratamento sacro dispendido à canção e com o patriotismo exacerbado que dela originava (muitas pessoas emendam um “God bless America and no one else” – “que Deus abençoe a América e ninguém mais” – ao fim da música).Usada desde campanhas políticas a lançamento de foguetes, “God Bless America” é uma canção que faz parte da tradição americana e que não se restringe a uma liga: na NHL o Philadelphia Flyers incorporou a música à abertura de seus jogos desde 1970 até hoje, inclusive a equipe considerava as apresentações pré-jogo de Katie Smith um talismã que ajudou a levar as duas únicas Stanley’s Cup para a cidade do amor fraternal em 1974 e 1975. Aqui e ali a canção também faz aparições na NFL, NBA e esportes universitários.Em 2019 Yankees e Flyers romperam laços com a versão clássica de Katie Smith, em razão das ligações da cantora com o racismo, observado em letras de antigas canções como “Thats why darkies were born”, na qual faz apologia descarada à escravidão.No mesmo estilo de “God bless America”, “America the beautiful” é outro clássico que parece ter saído direto da igreja e tomou conta dos esportes. Foi exatamente o que aconteceu. Em 1895, Katharine Lee Bates publicou o poema “America” inspirado em uma viagem na qual atravessou o país, de Massachusetts ao Colorado. 15 anos mais tarde a letra foi combinada com a composição instrumental “Materna” de Samuel Ward, organista de uma igreja em Newark, New Jersey e assim surgiu “America the beautiful”.Bates era uma mulher à frente de seu tempo: professora de inglês de uma universidade em Massachusetts, grande defensora do envolvimento dos EUA na Liga das Nações (órgão internacional que precedeu a ONU) e homossexual declarada (viveu com sua parceira por 25 anos). A letra, por sua vez, é uma ode à nação americana, unidos na liberdade e agraciados pela natureza.Logo após seu “lançamento”, os americanos tomaram gosto pela canção e incorporaram-na aos esportes. Atualmente é certo que haverá uma execução especial de “America the beautiful” durante os jogos comemorativos, nas finais de qualquer liga e em feriados nacionais, como dia de ação de graças, dia da independência, etc.Com o acirramento das discussões sobre igualdade racial e a opressão de minorias, têm ganho força opiniões que consideram até mesmo substituir o hino nacional americano (“Star sprangled banner”) por “America the beautiful”, pois aquele foi escrito por um escravocrata e é um hino extremamente belicoso, já a última é escrita por uma mulher liberal e progressista e possui uma letra deveras pacifista, que enaltece as dádivas naturais da América, a liberdade e a irmandade.Entre misticismo, religião, valores sociais e tradição, as ligas americanas estão recheadas de clássicos musicais que dão ainda mais significado aos espetáculos.Confira a nossa playlist com todas as músicas dos cinco capítulos desta série: https://www.youtube.com/c/PlaymakerBrasil/playlists

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