(por Matheus Correia)Um profissional convicto, cheio de ideais, que prega um futebol ofensivo, de intensidade e extremamente adaptável. Este é Vítor Pereira, novo treinador do Corinthians. Um nome que promete revolucionar o “DNA” alvinegro que por muito tempo, fez a equipe por diversas vezes (de forma até desnecessária) praticar um futebol defensivo e pragmático.Vítor chega ao clube do Parque São Jorge com um repertório muito maior e com um modo de trabalho que promete beneficiar muito mais esta “transição” do que técnicos como Tiago Nunes, que fracassaram na tentativa de tornar o Timão ofensivo. E claro, ainda há o fator “elenco”, com jogadores muito mais qualificados do que quando o atual comandante do Ceará assumiu o clube, em 2020.Planejada ou não, a chegada de Vítor é muito mais interessante para o Corinthians em relação a outros nomes da escola portuguesa que foram especulados. O motivo? Pereira é extremamente maleável perante sua equipe. Ou seja, ele prefere adaptar seu esquema tático ao contexto de uma partida e aos jogadores que tem à disposição do que necessariamente pregar cegamente um determinado estilo de jogo.Para situar melhor o torcedor alvinegro, a Playmaker Brasil fez uma breve análise do treinador e sua carreira, tentando entender como ele pode aplicar seus ideais em seu novo clube.CurrículoClubes treinados: Sanjoanense (2004-2005), Santa Clara (2008-2010), Porto (2010-11 como adjunto de André Villas-Boas; 2011-2013 como treinador definitivo), Al-Ahli (2013-2014), Fenerbahçe (2015-2016; 2021), Olympiacos (2015), 1860 Munique (2017), Shanghai SIPG (2017-2020), Corinthians (2022-)Formações preferidas: 4-3-3 e 3-4-3Tempo médio em um clube: 1,15 anosTítulos: 2 Campeonatos Portugueses (2011/12; 2012/13), 1 Campeonato da Grécia (2014/15), 1 Taça da Grécia (2014/15), 1 Campeonato Chinês (2018/19), 2 Supertaças de Portugal (2011/12; 2012/13).CarreiraVítor Pereira iniciou sua carreira em 2002, treinando as categorias sub-15 do Padroense e do Porto. Seu primeiro trabalho em um time profissional foi no Sanjoanense, em 2004. Entre 2005 e 2010, comandou equipes menores do futebol português, como Espinho e Santa Clara.Em 2010, foi chamado por André Villas-Boas para ser seu auxiliar técnico na equipe profissional do Porto. Na temporada em questão, os Dragões Azuis conquistaram a Europa League e o Campeonato Português, feitos que alavancaram a saída de Villas-Boas para o Chelsea.Sendo assim, na temporada de 2011/12, a direção do clube português optou por dar uma chance à Vítor como treinador definitivo. E o inexperiente técnico surpreendeu a todos no futebol de Portugal. Contando com craques como James Rodríguez e Hulk no elenco, Pereira fez história ao vencer o Campeonato Português com apenas uma derrota. No ano seguinte, superou ainda mais as expectativas: venceu a Primeira Liga de maneira invicta.Por conta de seu fracasso em competições europeias, Vitor deixou o Estádio do Dragão em 2013 para assumir o Al Ahli, da Arábia Saudita. Lá, pouco fez, com o maior destaque de sua passagem sendo um bate boca com o presidente do clube durante uma coletiva de imprensa ao criticar o comportamento dos jogadores.Em 2015, teve uma rápida, mas bem-sucedida passagem pelo Olympiacos, da Grécia. Conquistou o Campeonato Grego e a Copa da Grécia em apenas seis meses. No mesmo ano, assumiu o Fenerbahçe, da Turquia.Vítor falhou em superar Galatasaray e Besiktas, mas muitas vezes foi elogiado por “tirar leite de pedra” de um fraco e deficiente elenco, conquistando uma média de 2,07 pontos por partida. O treinador protagonizou diversas divergências com a diretoria do clube, e foi por este motivo que acabou demitido em 2016.Depois de uma tenebrosa passagem pelo 1860 Munique em 2017, Pereira foi para o futebol chinês treinar o Shanghai SIPG, estrelado por nomes como Oscar e Hulk. O português sucedeu seu compatriota e ex-companheiro de trabalho, Andrés Villas-Boas. Em 2018, Vítor conquistou um inesperado título do Campeonato Chinês, acabando com uma hegemonia de sete títulos consecutivos do Guangzhou Evergrande.Pereira deixou o Shanghai em 2020, retornando ao Fenerbahçe em 2021. O treinador fez um trabalho pior do que o seu primeiro no clube turco, o que acarretou sua demissão no mesmo ano. Durante o tempo em que ficou livre no mercado, Vítor chegou a assinar um acordo para treinar o Everton, mas após protestos da torcida dos Toffees, o negócio caiu por água abaixo.Estilo de jogoVítor é mais um dos nomes que tem seus princípios fundados na escola ofensiva de Portugal. Em alguns aspectos, seu trabalho inicial espelha o estilo de jogo de seu principal mentor, André Villas-Boas. No Porto, por exemplo, Pereira manteve a formação utilizada por seu antecessor: o 4-3-3. Mesmo com certa inexperiência, Vítor implementou um estilo de jogo que se adaptou ao então elenco dos Dragões Azuis, algo que o ex-treinador do Corinthians, Sylvinho, falhou em concretizar.Por ter um time de pouco vigor físico, Pereira optou por criar um padrão de posse de bola, com uma construção de jogada de maneira paciente e mais lenta. Defensivamente, instruía seus jogadores a realizar perseguições curtas para recuperar a bola de maneira rápida, evitando que os jogadores se desgastassem fazendo corridas longas de marcação quando o adversário possui a bola, algo que acontece com frequência quando uma equipe joga com linhas recuadas.Pereira tem como uma de suas principais qualidades a facilidade em transmitir e implementar suas ideias dentro de campo. Seus princípios táticos são mais importantes que a formação tática, que varia muito dependendo da fase ou do contexto de uma partida.Em entrevista ao site “Mais Futebol”, de Portugal, VP falou um pouco sobre este seu ideal de formações maleáveis: “Podemos começar com um 4-3-3 teórico e transformá-lo em outra coisa ao longo do jogo, no setor ofensivo e defensivamente, em função dos espaços que queremos controlar e atacar. Podemos montar e desmontar a estrutura durante o jogo (…) A tendência é essa, mexer na estrutura e tornar a equipe mais forte na pressão. As variações vão acontecer sempre, a estrutura vai montar-se e desmontar-se ao longo do jogo. A intenção é criar novos espaços e, ao mesmo tempo, controlar os espaços explorados pelo adversário”.Voltando a falar de seu estilo de jogo de maneira mais concreta, Vítor abdicou do 4-3-3 para utilizar o 3-4-3 no Fenerbahçe. Apesar do “esqueleto” da equipe ter mudado, os princípios de posse, pressão e domínio continuaram. Diferente do Porto, Pereira tinha em suas mãos um elenco de maior vigor físico, possibilitando que a equipe turca jogasse de maneira ainda mais intensa e com uma agilidade ainda maior na criação de jogadas.CaracterísticasConsiderado um profissional estudioso, Vítor não decepciona quando se trata de padrões táticos. Como citado anteriormente, uma de suas principais características é a habilidade de adaptar a formação da equipe perante o contexto da partida. Sua maleabilidade apresenta-se desde a saída de bola, podendo ser feita com 2, 3 ou 4 jogadores.Independente da quantidade de jogadores ou de suas predisposições posicionais, a saída de bola dos times de VP tem sempre como objetivo ligar rapidamente a bola ao ataque (exceto no seu trabalho com o Porto, onde a saída era feita de maneira mais paciente e aguardando por aberturas na defesa adversária).A saída de bola que mais chamou a atenção em seu trabalho foi quando comandava o Shanghai. Os dois defensores recebiam do goleiro e acionavam o meia criativo que saia de sua posição para receber mais atrás. Muita das vezes, esse jogador era o brasileiro Oscar, que tinha a capacidade de ligar a bola rapidamente ao ataque com lançamentos longos nas costas da defesa. No Corinthians, Vítor pode explorar esta saída com Renato Augusto ou até mesmo Victor Cantillo, que são dois jogadores que possuem uma boa visão de jogo e muita qualidade na bola longa.Ofensivamente, as equipes de Vítor buscam realizar ataques mais diretos. Em muitos momentos, os defensores procuram ligar a bola ao ataque rapidamente para que os jogadores da frente possam realizar passes nas costas da defesa para os atacantes de lado. Esta é uma característica que pode potencializar muito o jogo de nomes como Willian e Gustavo Silva, que tem como característica o poder de arrancada em direção ao gol.Quando feitas de maneira mais estruturada e paciente, as jogadas ofensivas no último terço depende bastante da movimentação inteligente dos três jogadores da frente, geralmente através de movimentações para puxar a pressão e criar espaços, permitindo que jogadores mais recuados infiltrem na grande área.Outra característica ofensiva interessante de VP é a forma com que ele “segura” a linha defensiva adversária. Vítor forma uma linha de dois jogadores na frente, praticamente como centroavantes, fazendo com que os quatro defensores adversários (zagueiros e laterais) se responsabilizem a marcá-los. Isso faz com que os dois pontas fiquem livres e possam atacar a bola já na grande área.A recuperação rápida da bola talvez seja um dos pontos de maior destaque nas equipes treinadas por Pereira. Utilizando-se do princípio de pressionar o adversário logo após perder a posse, Vítor pede a seus jogadores que invertam a jogada assim que recuperarem a bola. Isso faz com que a bola seja tirada da área mais congestionado do campo e dá a possibilidade de se iniciar um contra-ataque rápido e com a defesa mal posicionada.Nas bolas paradas, Vítor pode ser a solução para esta que é uma área muito deficiente da equipe do Corinthians. Ele pede a seus jogadores que ataquem o primeiro poste, seja para cabecear em direção ao gol ou “escorar” a bola para um jogador na segunda trave. Geralmente, essas movimentações são feitas muito rapidamente, o que desestrutura a marcação adversária.Já no setor defensivo, Vítor também consegue criar interessantes variações posicionais e táticas. Ele instruiu seus jogadores a realizar pequenas perseguições aos atacantes adversários, com o objetivo de “anular” uma opção de passe do outro time. As equipes de VP defendem tanto em linha de 4 como em linha de 5.Quando defende em linha de cinco, ele pede aos laterais que subam a marcação com o objetivo de destruir a jogada adversária antes que ela chegue no campo de defesa. Desta maneira, por exemplo, caso o lateral esquerdo suba para fazer pressão, o zagueiro da esquerda cobre o espaço deixado, formando então uma linha de 4. Em outras palavras, apesar de ser um treinador com mentalidade ofensiva, o setor defensivo das equipes de Vítor é muito bem estruturado.Primeiras impressõesO treinador português comandou sua primeira sessão de treino no clube alvinegro nesta segunda-feira (28).Uma atividade interessante realizada pelo treinador foi o trabalho com o domínio em progressão, algo deficitário em boa parte dos jogadores brasileiros. Além disso, foi possível observar atividades com foco na posse de bola.Como dito pelo próprio treinador, a tendência é de que os treinos sejam mais curtos, mas com muita intensidade. Algo que chamou a atenção nos vídeos foi a presença de inúmeros jogadores da base, como o zagueiro Robert Renan, os meias Mandaca, Keven e Pedrinho e o lateral Daniel Marcos.No treino desta terça-feira (1), as atividades tiveram foco regenerativo, mas também houve trabalhos no setor defensivo.ConclusãoA chegada de VP é muito benéfica para o clube alvinegro, mas é necessário entender que a equipe irá passar por diversas mudanças, dentro e fora de campo. A muito bem-vinda mentalidade europeia que atinge o futebol brasileiro através dos treinadores portugueses pode muitas vezes ser vista como muito “pesada” ou exagerada.Entretanto, caso o Corinthians deseje jogar um futebol vistoso e competitivo, é necessário dar tempo para que as ideias do treinador de fato se encaixem no time. O clube alvinegro possui excelentes peças, mas a ausência de um centroavante de ofício e a idade avançada dos jogadores são obstáculos que Vítor não teve de superar em seus melhores trabalhos na carreira.No fim das contas, a chance de Vítor dar certo como treinador do Corinthians são muito maiores do que as de dar errado. Não é à toa que seu nome foi especulado na Premier League.
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